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Corticoide reduz mortalidade

Estudo britânico confirma a eficácia da dexametasona em pacientes com covid-19 tratados com ventilação mecânica. Autores alertam que, em outras condições, a droga pode ter efeito contrário: agravar a infecção

Correio Braziliense
postado em 18/07/2020 04:20
Cientistas acreditam que, ao suprimir a imunidade, a droga evita uma resposta excessiva à presença do vírus, comum em pacientes graves


A dexametasona — um corticoide esteroide usado há seis décadas no tratamento de inflamações e doenças reumáticas — reduziu a mortalidade de pacientes de covid-19 que dependiam de ventilação mecânica. A conclusão é de um estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine, que, porém, alerta para riscos de administrar precocemente a substância. Estudos anteriores demonstraram que, em casos leves, o uso do medicamento pode causar, inclusive, infertilidade.

Na pesquisa atual, um consórcio de cientistas britânicos de diversas instituições, incluindo a Universidade de Oxford, 2.104 pacientes hospitalizados receberam, diariamente, 6mg da dexametasona por 10 dias. Para comparar resultados, outros 4.321 indivíduos foram submetidos ao tratamento usual, sem o corticoide. Depois de 28 dias, verificou-se que, entre as pessoas que estavam em ventilação mecânica, a taxa de mortalidade dos que usaram o remédio foi de 29,3%, comparada à de 41,1% verificada no outro grupo.

Em pacientes que recebiam oxigênio, mas com menos tratamentos invasivos, o benefício foi menor — 23,3% dos tratados com dexametasona morreram, enquanto 26,2% dos que não usaram faleceram. O estudo mostrou que nenhuma eficácia foi comprovada no grupo que não precisou receber oxigênio desde que começou o tratamento. Nessa categoria, 17,4% dos que fizeram uso do esteroide morreram, em comparação aos 14% que não o receberam, sugerindo que o medicamento aumentou o risco de mortalidade. Isso ocorre porque o funcionamento da droga suprime a resposta imune anormal que danifica os órgãos do corpo, em vez de atacar o vírus.

Em junho, em uma entrevista à agência France-Presse (AFP), um dos principais infectologistas mundiais, o norte-americano Anthony Fauci, alertou que a dexametasona não deve ser prescrita muito cedo, quando a pessoa é diagnosticada com covid-19. “(Nesses casos), não faz efeito, senão talvez uma possível piora do quadro”, ressaltou Fauci. “Isso é perfeitamente compreensível pelo fato de saber que, no início da infecção, você precisa do sistema imunológico para combater o vírus”, acrescentou. O corticoide esteroide suprime a imunidade e, por isso, é indicado para os pacientes graves, cujos organismos produzem uma resposta excessiva à presença do Sars-CoV-2, a chamada tempestade de citocinas.

Escolhas certas
Os autores do artigo divulgado no The New England Journal of Medicine  destacaram que a eficácia do medicamento “depende da escolha de uma dose certa, no momento certo, no paciente certo”. Eles acrescentaram que, no que diz respeito à covid-19, a resposta imune anormal para pacientes que fazem uso somente do oxigênio parece mais causar danos do que a própria replicação do vírus no organismo. Os cientistas alertam ainda que essa hipótese não deve ser aplicada a outras doenças respiratórias virais, como a síndrome respiratória aguda grave (Sars), a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) e a influenza, pois podem ter impactos diferentes.

A dexametasona foi adotada para combater a covid-19 no Reino Unido em 16 de junho, dia em que os resultados iniciais foram anunciados. A medicação também é recomendada para esses fins pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos Estados Unidos. Em seu site, o NIH alerta que ainda não se sabe até que ponto o corticoide pode funcionar em combinação com o remdesivir, um medicamento antiviral que provou ser benéfico quando usado sozinho.

Os especialistas do NIH acrescentam que os pacientes que tomam o medicamento devem ser monitorados de perto para infecções secundárias e em relação ao alto nível de açúcar no sangue. Sabe-se também que o uso de corticosteroides pode reativar infecções que estavam dormentes, como o vírus da hepatite B ou da tuberculose.





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