O Reino Unido voltou a acusar o governo russo de participação em um esquema de ataques cibernéticos para roubar dados de pesquisas que buscam uma vacina para a covid-19. Ontem, o chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, declarou que está “absolutamente seguro” de que a ação dos hackers contou com apoio de instituições russas. “Estamos absolutamente certos de que as agências de inteligência russas se envolveram em um ataque cibernético (...) para sabotar ou tirar proveito da pesquisa em desenvolvimento”, disse em entrevista à emissora Sky News.
Segundo Dominic Raab, medidas serão tomadas contra o fato “escandaloso”. “No momento em que o mundo está se unindo para tentar conter a covid-19, especialmente para encontrar uma solução global de uma vacina, acho que é um tanto escandaloso e repreensível que o governo russo se envolva nessas atividades. Vamos responsabilizar a Rússia e trabalhar para tornar o mundo consciente da natureza de seus atos nefastos”, enfatizou.
Também em uma entrevista divulgada ontem, o embaixador russo em Londres, Andrei Kelin, comentou as acusações. Segundo Kelin, elas não “fazem nenhum sentido” e “não têm nenhuma importância”. “Eu absolutamente não acredito nessa história”, disse, em entrevista à BBC, acrescentando que ouviu pela primeira vez sobre os hackers na mídia britânica. Ainda de acordo com Andrei Kelin, é impossível atribuir atos de pirataria informática a um único país. “Neste mundo, atribuir qualquer ação de hacker a qualquer país é impossível.”
Respaldo
Ao divulgar o caso, na quinta-feira passada, o Centro Nacional de Cibersegurança (NCSC, na sigla em inglês) relatou que os objetivos dos hackers eram organismos de pesquisa e desenvolvimento de vacinas do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Canadá, e que as acusações tinham respaldo das autoridades americanas e canadenses. “O NCSC avalia que (o grupo) APT29, também chamado Dukes ou Cozy Bear, com, quase toda certeza, opera como parte dos serviços de inteligência russos”, informou o comunicado divulgado.
De acordo com o texto, em Londres, a Universidade de Oxford e o Imperial College London seriam os alvos dos hackers. Autoridades britânicas também apontaram a suposta tentativa do APT29 de influir nas eleições de 2019, que levaram Boris Johnson ao posto de primeiro-ministro. A nova denúncia foi imediatamente negada pelo Kremlin, que também fez menção à anterior. “Nós rejeitamos essas acusações, bem como as alegações sem fundamento sobre uma interferência nas eleições de 2019”, declarou Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin.
Na entrevista à BBC, Andrei Kelin também comentou a suposta interferência nas eleições britânicas. “Não interferimos de maneira alguma. Não vemos nenhum ponto de interferência porque, para nós, seja o Partido Conservador, seja o Partido Trabalhista comandando este país, tentaremos estabelecer melhores relações.”
Relações tensas
Ambos casos intensificam um contexto de tensão entre Londres e Moscou — as relações entre os países estão fragilizadas desde o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal em território britânico, na cidade de Salisbury, em março de 2018. A Rússia negou qualquer envolvimento no assassinato, mas o caso desencadeou uma série de expulsões cruzadas de diplomatas entre Londres e seus aliados e Moscou.
Também há suspeitas de interferências russas no referendo de 2016 para a saída do Reino Unido da União Europeia o Brexit. Na entrevista concedida ontem, Kelin também negou essas acusações e disse que a Rússia “está disposta a virar a página” em relação aos recentes embates diplomáticos com Londres e a “fazer negócio” com o Reino Unido.
Impasse em plano de recuperação
Líderes da União Europeia (UE) seguiram tentando vencer os impasses ao longo do terceiro dia de negociações sobre um plano que visa superar os estragos deixados pela pandemia no continente. O encontro foi prorrogado por mais um dia em função da falta de consenso, e os sinais eram de que a situação permaneceria. A chanceler alemã, Angela Merkel, alertou sobre a possibilidade de mais um dia sem acordo, as conversas se intensificaram pela tarde, e o primeiro encontro entre os 27 países começou às 19h (14h, em Brasília), durante um jantar. Até o fechamento desta edição, as dificuldades seguiam.
Os detalhes do plano, que beneficia principalmente os países do sul do continente, mais afetados pela pandemia, não convencem os países “frugais”, adeptos do rigor fiscal: Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca e Finlândia. Para sair da maior recessão de sua história, a UE debate um plano de 750 bilhões de euros, valor que a Comissão Europeia tomaria emprestado em nome dos 27 países, um marco inédito do projeto europeu.
Os “frugais” exigem a redução do valor total do plano, que engloba subsídios e empréstimos. Sobre os primeiros, esses países não estão dispostos a aceitar um valor superior a 350 bilhões de euros, em um momento em que a Comissão propõe 500 bilhões, segundo fontes. No sábado, Charles Michel, presidente do Conselho, propôs abaixar o valor dos subsídios para 450 bilhões. Ontem, no jantar, teria sugerido o valor de 400 bilhões. Mas os líderes da Áustria e da Holanda se recusavam a ceder.
“Missão impossível”
A ajuda em forma de subsídios seria retornada pelos 27 países, não somente pelos beneficiados. Os líderes críticos ao plano consideram os países do sul do continente fiscalmente mais relaxados. Por isso, defendem a adoção de garantias para o uso adequado dos fundos. “Em sete anos (como primeiro-ministro de Luxemburgo), raras vezes eu pude ver visões tão diametralmente opostas”, observou Xavier Bettel. Ontem, Charles Michel urgiu os 27 a chegarem a um acordo. Segundo ele, os jornais europeus informariam que a UE havia “realizado uma missão impossível”.
Devido à pandemia, a economia mundial poderá sofrer uma contração de 4,9% em 2020, uma queda vertiginosa que chegaria a 10,2% na zona do euro e a 9,4% na América Latina e Caribe, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Se a cúpula fracassar, outra poderá ser organizada presencialmente em agosto, segundo uma fonte diplomática, embora dependerá da situação da pandemia do coronavírus no mundo.
Índia também enfrenta as monções
Terceiro país com o maior número de infectados — 1 milhão, atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil —, a Índia enfrenta ainda o desafio dos estragos causados pelas monções. Milhões de pessoas estão desabrigadas em razão das fortes chuvas, que deixaram também dezenas de desaparecidos e, ao menos, 189 mortes. O transbordamento do Rio Brahmaputra, que atravessa Tibete, Índia e Bangladesh, danificou as plantações e provocou deslizamentos de terra, afetando milhões de pessoas, segundo autoridades locais. Em Assam, por exemplo, no nordeste da Índia, mais de 2,75 milhões de pessoas estão fora de suas casas. Desde o fim de maio, o estado sofreu três ondas de inundações, que resultaram em 79 óbitos. A última, iniciada há 15 dias, atingiu 33 distritos. Desses, 25 permanecem afetados.
Hong Kong em “situação crítica”
Um dos primeiros locais a serem atingidos pelo novo coronavírus, Hong Kong, que, no mês passado, não registrou infecções locais, volta a uma situação de alerta. Autoridades advertiram ontem que o Sars-CoV-2 se propaga pelo território de forma descontrolada. Em 24 horas, foram registrados mais de 100 casos. “Considero a situação realmente crítica, e não há sinais de que será controlada”, disse a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, pedindo que a população do território reforce as medidas de distanciamento. Nas duas últimas semanas, mais de 500 novos casos foram registrados, e os médicos ainda não conseguiram identificar as redes de transmissão no território densamente povoado, com 7,5 milhões de habitantes. Carrie Lam anunciou um projeto para tornar obrigatório o uso de máscara em espaços públicos fechados e a obrigação do trabalho remoto para funcionários públicos que exercem atividades não essenciais.
Alemanha: presos na “festa do coronavírus”
Trinta e nove pessoas foram presas na Alemanha depois que agentes da polícia foram atacados com uma “chuva de garrafas” durante um evento, no centro de Frankfurt, intitulado a festa do coronavírus. Em torno de 3 mil jovens se reuniram no local, ao ar livre, segundo a polícia. O tumulto ocorreu na madrugada, quando policiais interviram em uma briga envolvendo cerca de 30 pessoas. O local tornou-se um centro habitual de aglomerações enquanto bares e clubes seguem proibidos de abrir as portas em função de medidas de combate à covid-19. O país prepara-se para uma possível segunda onda de infecções e planeja instaurar “proibições de saída” em determinadas zonas. O último balando da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a Alemanha registrou 202 novos casos ontem, totalizando 201.574 infectados e 9.084 mortes.
Cuba zera registro de novos casos
Entrando na etapa final da retomada das atividades, Cuba anunciou ontem mais um avanço no enfrentamento à pandemia. Pela primeira vez em quatro mês, o país não registrou novos casos de covid-19. No sábado, um caso foi contabilizado. Os 2,2 milhões de habitantes da capital permanecem na última fase, de três estágios, da reabertura. Podem usar transporte público e privado, ir à praia e a outros centros de recreação. Seguem obrigatórios o distanciamento social e o uso de máscara. De acordo com a OMS, a ilha caribenha registra 2.445 casos de infectados e 87 mortes — números bem menores do que os de outros países da região. Entre as medidas adotadas pelos cubanos estão o mapeamento e o isolamento de assintomáticos, a testagem de todos os contatos de uma pessoa infectada e visitas domiciliares em busca de possíveis pacientes.
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