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Fantasma à solta

Lideranças do Partido Democrata no Congresso enviam carta ao FBI na qual demonstram preocupação com %u201Cesforços estrangeiros para interferir nas eleições%u201D de 3 de novembro e pedem sessão secreta de contra-inteligência, em caráter de urgência

Correio Braziliense
postado em 21/07/2020 04:06
Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, caminha pelo saguão do Capitólio: uma das signatárias da carta endereçada ao FBI



Em carta mantida confidencial por uma semana e divulgada ontem, as quatro principais lideranças do Partido Democrata no Congresso — Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes; Chuck Schumer, líder democrata no Senado; Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara; e Mark Warner, vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado — exortaram o FBI (polícia federal dos Estados Unidos) a realizar uma sessão informativa de contra-inteligência a todos os membros das duas casas do Legislativo sobre “esforços estrangeiros para interferir nas eleições presidenciais” de 3 de novembro. “Nós estamos gravemente preocupados, em particular, que o Congresso pareça ser o alvo de uma campanha de interferência estrangeira, que busca espalhar e amplificar desinformação para influenciar a atividade parlamentar, o debate público e a eleição presidencial em novembro”, afirma o comunicado.

Ante “a seriedade e a especificidade dessas ameaças”, os líderes consideram imperativo que o FBI “forneça uma sessão defensiva secreta a todos os membros do Congresso”. “Dada a natureza em andamento dessas ameaças, pedimos ao FBI para que realize tal sessão antes do recesso de agosto, na primeira oportunidade”, acrescentam, na carta endereçada a Christopher A. Wray, diretor do FBI. Schiff publicou a foto do documento em seu perfil no Twitter e advertiu que “os americanos decidem as eleições norte-americanas”. Os congressistas não detalharam as ameaças, mas revelaram que a carta estava acompanhada de um arquivo sigiloso com informações.

Professor de história e de política social da Universidade de Harvard, Alexander Keyssar admitiu ao Correio que o ator mais provável por trás da suposta interferência nas eleições seria a Rússia. “No entanto, pode haver outros Estados, além de atores não estatais. O principal objetivo de uma ingerência seria causar interrupções e caos nas eleições, o que levaria ao descrédito do resultado. Também existe a possibilidade de que o presidente Donald Trump e seus aliados tentem controlar as eleições e declarar vitória no pleito”, disse.

Gravidade

Por sua vez, Bruce Ackerman — professor da Faculdade Sterling de Direito e de Ciência Política da Universidade de Yale, em New Haven (Connecticut) — explicou ao Correio que os americanos tradicionalmente confiam em cidadãos locais, apontados pelas comissões eleitorais estaduais ou municipais, para organizar as eleições nacionais. “Embora o governo federal forneça fundos, eles têm sido insuficientes para permitir que os grupos de cidadãos obtenham assistência de alta tecnologia suficiente para proteger os seus sistemas de votação, relativamente primitivos, da interferência externa”, comentou. “Isso significa que a ameaça de manipulação dos sistemas de apuração de votos é muito grave.”

De acordo com Ackerman, mesmo que a Agência Central de Inteligência (CIA) possa detectar e evitar que Rússia, China e outras nações interfiram nas eleições, isso não reduziria, de forma significativa, a ameaça. “Somos 330 milhões de norte-americanos, dos quais 210 milhões estão legalmente qualificados para votar. Existem dezenas de milhões de simpatizantes apaixonados por Donald Trump e Joe Biden — e milhões deles têm habilidades de alta tecnologia para penetrar muitos dos sistemas de votação”, disse. “Pior ainda, como uma questão prática, é tarde demais para remediar o problema de forma decisiva, mesmo que o Congresso tenha reservado uma grande quantia de dinheiro para apoiar o esforço. Mais grave: Trump está se opondo, de forma explícita, aos esforços de Pelosi para aprovar tal legislação (sobre o repasse de verbas).”

» Mémória

Invasão não comprovada

Hackers russos são suspeitos de invadir computadores do Comitê Nacional do Partido Democrata, em julho de 2016, e de capturar dados da campanha da ex-secretária de Estado Hillary Clinton e então adversária do republicano Donald Trump na corrida pela Casa Branca. Cerca de 19 mil e-mails, vazados pelo site WikiLeaks, teriam sido obtidos por piratas cibernéticos ligados ao Kremlin.

Uma investigação liderada pelo promotor especial Robert Mueller, cujo foco eram as denúncias de conluio entre a campanha de Trump e a Rússia, não conseguiu estabelecer provas contundentes sobre a relação criminosa.

No entanto, o inquérito mostrou que aliados de Trump mantiveram inúmeros contatos com intermediários russos, e que Moscou tinha realizado interferências na campanha presidencial com a intenção de favorecer o magnata. Uma investigação liderada por senadores do Partido Republicano mostrou que a Rússia tentou ajudar Trump.

Máscara, símbolo de “patriotismo”
Depois de ser fotografado em público utilizando uma máscara, no último dia 11, o presidente 
norte-americano, Donald Trump, defendeu o uso da proteção facial com um argumento insólito. “Nós estamos unidos em nossos esforços para derrotar o vírus invisível da China, e muitas pessoas dizem que é patriótico usar uma máscara quando você não pode manter o distanciamento social”, escreveu, em seu perfil no Twitter, que trazia uma foto em preto e branco. “Não há ninguém mais patriota do que eu, seu presidente favorito!”, acrescentou Trump. Com 
3,8 milhões de casos da covid-19 e quase 141 mil mortes, os Estados Unidos não têm conseguido debelar a pandemia do novo coronavírus.

» Eu acho...
“Os congressistas democratas estão corretos em demonstrar preocupação, apesar de nunca nem eles nem ninguém saber a real dimensão do risco de interferência estrangeira. Trata-se de um risco real, mas a probabilidade de isso ocorrer 
em novembro é algo impossível de dizer.”
Alexander Keyssar,  professor de história e de política social da Universidade de Harvard

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