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Londres suspende pacto de extradição

Em resposta à aprovação da Lei de Segurança Nacional na antiga colônia, Reino Unido também anunciou embargo de armas %u201Cpotencialmente letais%u201D, além de criticar tratamento a grupos minoritários por parte da China. Pequim denuncia %u201Ccalúnia%u201D

Correio Braziliense
postado em 21/07/2020 04:06
Policial detém manifestante durante protesto em shopping de Yuen Long, em Hong Kong: medo de aumento de repressão com nova legislação


O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, anunciou a suspensão “imediata e por duração indeterminada” do tratado de extradição com Hong Kong. A medida é uma resposta à imposição, por parte da China, de uma polêmica lei de segurança nacional na antiga colônia britânica — o qual ativistas veem como o fim da fórmula “um país, dois sistemas”. Em um anúncio bastante aguardado no Parlamento, Raab justificou a decisão alegando que a legislação imposta em Hong Kong “mudou consideravelmente” a maneira como funciona o sistema judicial da metrópole financeira asiática.

De acordo com o ministro, a China agora pode reivindicar “jurisdição sobre certos assuntos”, que seriam então “apresentados aos tribunais chineses”. O chefe da diplomacia britânica também anunciou ao Parlamento que o Reino Unido decidou estender a Hong Kong o embargo de armas “potencialmente letais”, aplicado à China desde 1989.

“A extensão deste embargo significa que não haverá mais exportação de armas potencialmente letais, seus componentes ou munições”, explicou Raab, acrescentando que isso também se refere a “todos os equipamentos que não são mais proibidos (na China), mas que poderiam ser usados para repressão interna”. Ambas as decisões foram tomadas em resposta à promulgação da lei de segurança nacional em Hong Kong pela China, após uma onda de protestos em favor das liberdades na ex-colônia britânica.

Entre outras coisas, a lei pune atividades separatistas, “terroristas”, subversão ou interferência estrangeira no território autônomo chinês. Opositores temem um aumento da repressão por parte das forças policiais do território, sob o comando do Partido Comunista Chinês. “É uma violação clara e séria do tratado sino-britânico que organizou o retorno de Hong Kong a Pequim em 1997”, disse Raab. Em reação, Londres tinha anunciado a ampliação dos direitos de imigração a milhões de habitantes de Hong Kong portadores do “passaporte britânico estrangeiro”, o que facilitaria o acesso à cidadania.

Muçulmanos

Além das tensões em relação a Hong Kong, o Reino Unido também fez críticas ao tratamento da China ao grupo étnico minoritário muçulmano uigur. De acordo com denúncias de grupos de defesa dos direitos humanos, até 1 milhão de uigures teriam sido transferidos para centros de reeducação e submetidos a esterilizações forçadas.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, tinha alertado o Reino Unido sobre possíveis represálias por se intrometer em seus assuntos internos, chamando as críticas à política de Pequim em relação aos uigures de “calúnias”. “Pedimos ao Reino Unido que não siga neste caminho errado, para evitar danos ainda maiores nas relações com a China”, alertou Wang. “As recentes observações e medidas erradas em relação a Hong Kong violam gravemente o direito internacional e as normas básicas que regem as relações internacionais. A China condena e se opõe energicamente a isso, acrescentou. A suspensão do tratado de extradição pelo Reino Unido ocorre depois que Estados Unidos, Canadá e Austrália tomaram medidas semelhantes.

“Pedimos ao Reino Unido que não siga neste caminho errado, para evitar danos ainda maiores nas relações com a China”
Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês
 
“Fantoche” de Washington
Pequim acusou Londres de ser um “fantoche” da política externa americana sobre a empresa Huawei, depois que Washington impôs sanções à sociedade chinesa por seu acesso a chips americanos que são essenciais para suas redes 5G. Os Estados Unidos acreditam que a empresa privada está em conluio com o Estado chinês e que o uso de sua tecnologia pode colocar em risco questões relacionadas aos serviços de inteligência, o que a empresa nega. 

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