Rodrigo Craveiro
postado em 29/07/2020 06:00

Eduardo Bolsonaro, homólogo de Engel no Brasil e filho do presidente Jair Bolsonaro, respondeu com uma série de mensagens no Twitter, na tarde de ontem. ;O probema é eu opinar sobre as eleições nos EUA? Ou é apoiar Donald Trump?;, escreveu. ;É certo que as relações Brasil-EUA estão acima das pessoas e, independentemente do vitorioso em 2020, trabalharemos para manter essa boa relação. (;) A sorte do colega Eliot Engel é que não sou de esquerda, se não esse post seria reduzido ao insulto de xenofóbico;, acrescentou, ao assegurar que apoia Trump por convicções pessoais.
Consultado pelo Correio, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro informou que ;não comentará assuntos relativos ao quadro eleitoral dos Estados Unidos da América;. Também contatado pela reportagem, o Palácio do Planalto não se pronunciou sobre o tema até o fechamento desta edição.
Para o historiador britânico Kenneth P. Maxwell, professor aposentado da Universidade de Harvard e fundador do Programa de Estudos sobre o Brasil, uma vitória do democrata Joe Biden, líder das pesquisas, nas eleições de 3 de novembro provocará ;um grande reajuste nas relações com o Brasil;. ;Os vínculos entre Bolsonaro e Trump são pessoais e transacionais. No entanto, não resultaram em grandes mudanças estruturais de longo prazo. Um governo de Biden será muito mais rígido em relação a questões ambientais e aos direitos humanos;, afirmou ao Correio. ;O Brasil precisará fazer escolhas difíceis no contexto global e na rivalidade entre China e EUA, a qual não desaparecerá tão cedo, quem quer que seja o próximo presidente norte-americano.;
Por sua vez, Riordan Roett ; diretor emérito do Programa de Estudso da América Latina da Universidade Johns Hopkins (Washington) ; aposta em uma relação pragmática, em caso de triunfo democrata. ;Em uma gestão de Biden, o meio ambiente, a pandemia do novo coronavírus e um comércio justo serão temas-chave da cooperação bilateral;, explicou, por e-mail.
Discípulo do brasilianista Thomas Skidmore, o historiador político James Naylor Green disse não ter dúvidas de que haverá uma mudança na atitude do governo dos EUA em relação ao Brasil, se Biden vencer e os democratas retomarem o controle do Senado. ;Não tenho ideia se o presidente Bolsonaro conseguirá ou não desenvolver uma relação de trabalho com os Estados Unidos, mas acho que as forças progressistas no Congresso norte-americano ampliarão seu apoio aos movimentos sociais e à agenda progressista no Brasil;, afirmou à reportagem o professor da Universidade Brown (em Rhode Island). ;Bolsonaro provavelmente ficará mais isolado internacionalmente se Trump não for reeleito, e isso enfraquecerá seu poder em âmbito nacional.;
Irresponsabilidade
Presidente honorário do think tank Diálogo Interamericano (em Washington), Peter Hakim também avalia que as relações entre EUA e Brasil tornar-se-ão mais controversas e, provavelmente, distantes, sob o comando de Biden. ;Um governo de Biden refletirá as atuais opiniões do Partido Democrata de que o governo Bolsonaro é irresponsável na gestão da Amazônia; em sua negação das mudanças climáticas; em suas vergonhosas políticas de direitos humanos para afrobrasileiros, mulheres e grupos indígenas; e em suas atitudes em relação ao multilateralismo;, previu. ;O Brasil não terá um relacionamento fácil com os EUA. O único benefício para Bolsonaro será menos pressão para reduzir o comércio do Brasil com a China;, acrescentou, por e-mail.
Segundo Hakim, além da ;adulação ilimitada; de Bolsonaro para Trump, não há muita relação entre os governos do Brasil e dos EUA . ;O comércio não está aumentando e nenhum grande acordo econômico se avizinha. Os EUA procuram no Brasil apoio ocasional na esfera internacional, como para eleger um presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID);, avaliou. Ele considera Bolsonaro ;tolo; por crer que pode contar com o apoio norte-americano a qualquer iniciativa séria.
Na opinião de Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM São Paulo, a eventual eleição de Biden sugere um relacionamento com ;muitos pontos de atrito e de pressão;, especialmente na questão ambiental. ;O apoio explícito de Bolsonaro a Trump será outro obstáculo para a construção de confiança. Por outro lado, temos intensa agenda de comércio e discussão de temas econômicos importantes para ambos governos.;
O tuíte polêmico
Na última segunda-feira, Eliot Engel, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, retuitou uma mensagem com vídeo publicada na véspera por Eduardo Bolsonaro ; ocupante de cargo homólogo na Câmara dos Deputados, em Brasília. ;Já vimos esse roteiro antes. É vergonhoso e inaceitável. A família Bolsonaro precisa ficar de FORA das eleições dos Estados Unidos;, escreveu. O vídeo replicado por Eduardo era material de apoio à reeleição do republicano Donald Trump.
Brasilianistas
;Durante um governo de Joe Biden, acredito que a Casa Branca buscará observar e estabelecer relações pragmáticas e corretas com o Brasil. Uma mudança nos padrões da cooperação bilateral dependerá da disposição do governo de Jair Bolsonaro de abordar os temas mais importantes para os dois países de maneira realista e prática.;, Riordan Roett, diretor emérito do Programa de Estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins (Washington).
;Veremos um novo padrão nas relações, tanto por parte dos EUA quanto do Brasil. No perigoso mundo pós-pandemia, muitos padrões terão que ser restabelecidos. As consequências econômicas da pandemia estão começando a ser sentidas. Trump e Bolsonaro têm a nada invejável distinção de serem os dois piores respondedores da pandemia. Pelo menos, eles têm isso em comum.;, Kenneth P. Maxwell, historiador britânico, professor aposentado da Universidade de Harvard e fundador do Programa de Estudos sobre o Brasil.
;Não creio que, além de membros da comunidade brasileira nos EUA, haja muitos simpatizantes de Bolsonaro entre a população americana. O vínculo estreito entre Trump e Bolsonaro ajudou a educar o público dos EUA sobre quão ruim os dois governos têm sido. As pessoas veem que ambos têm a mesma atitude em relação à pandemia, à democracia e aos direitos civis e humanos.;, James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island) e discípulo de Thomas Skidmore (1932-2016).