Correio Braziliense
postado em 29/07/2020 04:17
Em meio a novos alertas da Organização Mundial da Saúde (OMS), vários países que vinham relaxando as medidas de distanciamento, adotam, agora, o caminho contrário, voltando a impor restrições à população. Das quarentenas aos fechamentos de praia e à obrigação do uso de máscara, mesmo ao ar livre, governantes adotam medidas para tentar impedir uma segunda onda do novo coronavírus, que começa a isolar a Espanha mais uma vez. Ontem, a OMS advertiu que o Sars-CoV-2 pode não ser sazonal.
A covid-19 é um desafio mesmo para os países que pareciam estar com a situação dominada. Inicialmente considerada um exemplo de gestão da crise, a Alemanha se vê às voltas com o aumento de casos nos últimos dias e desaconselhou viagens não essenciais a três regiões da Espanha — Aragão, Catalunha e Navarra.
Por sua vez, o Reino Unido defendeu, ontem, a decisão de impor quarentena a todos os viajantes procedentes do território espanhol, uma medida criticada por Madri, que a classificou de “desajustada”, apesar do aumento no número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Segundo Simon Clarke, secretário britânico de Estado do Crescimento Regional e Governo Local, os diagnósticos na Espanha cresceram 75% entre a metade e o fim da semana passada. “Por isso tomamos essas medidas”, justificou. A decisão repentina de Londres chegou de surpresa no domingo para milhares de turistas que estavam na Espanha de férias.
Diante do anúncio da Alemanha, o governo espanhol se esforça para dar tranquilidade aos vizinhos. “Queremos enviar uma mensagem clara de confiança”, disse a porta-voz do governo, Maria Jesús Montero. “A Espanha é um destino seguro que se preparou e se fortaleceu para lidar com o vírus e novos surtos”, acrescentou. A região de Madri reforçou, ontem, o uso obrigatório da máscara e impôs a limitação de reuniões para mais de 10 pessoas.
De forma global, o turismo sofreu perdas de US$ 320 bilhões, entre janeiro e maio, devido à pandemia viral, contabilizou a Organização Mundial de Turismo (OMT). Para a Espanha, a pandemia também tem tido sérias consequências sociais, com mais de um milhão de empregos extintos no país no segundo trimestre — a grande maioria nos setores de serviço e turismo.
Avanço contínuo
Com 16,5 milhões de pessoas infectadas e 654 mil mortes, a pandemia continua seu avanço inexorável, forçando a revisão de planos. Na França, o governo de Emmanuel Macron decidiu manter um limite de 5 mil pessoas nos estádios até o fim de agosto, enquanto a agência de saúde alemã aconselhou usar máscara ao ar livre, se a distância física for impossível de respeitar.
As autoridades na China, onde o vírus apareceu em 2019 e parecia estar controlado agora, anunciaram a disseminação de surtos em cinco províncias, incluindo a da capital, Pequim. Já o Irã registrou 235 óbitos por coronavírus entre segunda-feira e ontem, um recorde para o país, o mais afetado do Oriente Médio.
As restrições de movimento continuam sendo uma parte importante da estratégia de muitos países para combater o novo coronavírus, mas a Organização Mundial da Saúde alertou, na segunda-feira, que é inviável manter as fronteiras fechadas. “As economias devem reabrir, as pessoas devem trabalhar, o comércio deve retomar”, afirmou o diretor de Emergências da OMS, Michael Ryan.
Ontem, a agência das Nações Unidas observou que as estações do ano parecem não influenciar a transmissão do novo coronavírus, condição que enfraquece a ideia de que o risco de infecção reduziria durante o verão. Segundo a OMS, o fato de os Estados Unidos, que estão em pleno verão, e de o Brasil, que está no inverno, serem, ao mesmo tempo, os países mais afetados pela pandemia sinaliza que o Sars-CoV-2 não tem esse tipo de limitação.
“Parece haver uma ideia persistente de que o vírus é sazonal (...), mas todos devemos ter em mente que é um vírus novo e, mesmo que seja um vírus respiratório, que, historicamente, tende a ser sazonal, se comporta de maneira diferente”, ressaltou Margaret Harris, porta-voz da OMS.
O presidente dos EUA, Donald Trump, que havia adotado um comportamento menos polêmico em relação à pandemia, voltou a semear dúvidas sobre a covid-19. Na segunda-feira, o chefe da Casa Branca transmitiu informações errôneas sobre os tratamentos e retomou os ataques ao renomado imunologista Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas.
Trump compartilhou uma teoria da conspiração segundo a qual o especialista ajudou a impulsionar o vírus, a fim de evitar sua reeleição. O presidente também compartilhou um comentário de podcast em que um ex-assessor diz que Fauci enganou os americanos em vários assuntos.
“O senhor pode continuar fazendo o seu trabalho quando o presidente questiona publicamente a sua credibilidade?”, perguntou a Fauci um jornalista do canal ABC. “Eu não tuíto. Sequer leio os tuítes”, respondeu, com sua calma habitual, o pesquisador, que goza de grande popularidade nos EUA. “Não enganei os americanos, sob hipótese alguma. Estamos no meio de uma crise, uma pandemia. Foi para isso que treinei durante toda a minha vida profissional”, declarou.
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