Correio Braziliense
postado em 30/07/2020 04:06
Cientistas ainda não sabem dizer por quanto tempo uma pessoa que foi infectada pelo vírus Sars-CoV-2 pode transmitir a doença, o que dificulta o desenvolvimento de estratégias de prevenção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou, ontem, que estudos iniciais mostram que pessoas com casos graves da covid-19 podem transmitir a enfermidade por até três semanas, um tempo superior ao de pacientes com casos leves, que, segundo o órgão, seria de nove dias. Especialistas acreditam que mais pesquisas são necessárias para comprovar essas suspeitas.
“Estamos usando essa informação para saber por quanto tempo alguém precisa ser isolado para prevenir a transmissão”, afirmou a líder técnica da resposta ao coronavírus da OMS, Maria Van Kerkhove, durante coletiva de imprensa realizada em Genebra. A especialista também ressaltou que a OMS recomenda isolamento de todos os pacientes, independentemente da gravidade da doença, como forma de diminuir o contágio pelo coronavírus. “É importante que todos os casos sejam identificados, mesmo os assintomáticos, porque eles também podem transmitir”, enfatizou.
Kerkhove também destacou que é necessário ter certeza quanto ao período em que uma pessoa pode transmitir a doença porque essa informação pode ajudar a interpretar testes, como o PCR. Esse exame, baseado na coleta de secreção do nariz e da garganta, é o mais eficaz para apontar a covid-19 e pode dar positivo por um longo período de tempo. “Mas isso não significa, necessariamente, que essas pessoas são infecciosas, que podem transmitir o vírus para outros”, pondera.
A especialista também tranquilizou as pessoas ao ressaltar que, embora pacientes que apresentam a forma severa da doença transmitam o vírus por mais tempo, elas já estão nos hospitais e isoladas, o que impediria uma transmissão descontrolada. Kerkhove, porém, não fez menção ao excesso de pacientes sendo atendidos nos centros hospitalares, uma realidade enfrentada por boa parte dos países nesta pandemia. Ela também frisou que os dados foram apresentados por laboratórios parceiros da organização, e que ainda são limitados, coletados em estudos que não foram revisados por pares nem publicados em revistas científicas.
Preocupação
Gesmar Rodrigues Silva, coordenador do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), ressalta que o tempo de transmissão é algo que sempre preocupou a comunidade médica. “No começo da pandemia, essa foi uma questão que deixou os especialistas muito receosos, ninguém sabia quanto tempo determinado paciente precisaria ficar isolado, até porque a capacidade de transmissão desse vírus é muito alta, algo ainda mais preocupante”, explica.
O médico destaca que outros cientistas buscam dados relacionados ao período em que um paciente pode infectar outra pessoa com a covid-19. “É um tema que tem sido muito estudado. No Rio de Janeiro, temos uma equipe dedicada a isso, mas ainda não tivemos acesso aos seus resultados. Sabemos que as pessoas excretam partículas virais por um tempo longo, mas não sabemos se elas são capazes de contaminar outro indivíduo, essa é a grande questão”, diz.
O especialista brasileiro acredita que os dados divulgados pela OMS precisam ser melhor avaliados. “Infelizmente, eles acabam voltando atrás em muitas informações que divulgam. Anteriormente, disseram que esse tempo era de 14 dias para os casos leves. Depois, diminuíram de nove a 10 dias de isolamento. É algo que acontece porque as pessoas estão preocupadas com a pandemia e com pressa de divulgar estudos.”
Hermerson Luz, infectologista, também acredita que os dados divulgados pela OMS precisam ser confirmados. “A cada dia, surgem novas informações. Por isso, temos que ressaltar que muitas coisas que são divulgadas agora não são regras”, justifica. “Outro ponto é que, se o paciente grave realmente tem a possibilidade de transmitir a doença por três semanas, ele geralmente já está isolado e só vai sair de lá depois da alta, o que demora até mais do que esse período. Então, no nosso dia a dia, essa informação não muda nada.”
O infectologista acredita que, só com o tempo, será possível bater o martelo quanto ao tempo de transmissão tanto de casos graves quanto leves. “É importante ter mais estudos para ter essa confirmação. Acredito que outro tema ainda mais importante é saber se uma pessoa pode ser reinfectada. Acho que teremos respostas para as duas perguntas futuramente.”
“Sabemos que as pessoas excretam partículas virais por um tempo longo, mas não sabemos se elas são capazes de contaminar outro indivíduo, essa é a grande questão”
Gesmar Rodrigues Silva, coordenador do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.