Correio Braziliense
postado em 30/07/2020 22:55
O presidente americano, Donald Trump, levantou nesta quinta-feira a possibilidade de um adiamento inédito das eleições presidenciais nos Estados Unidos, alegando que os mecanismos para o voto pelo correio devido à pandemia poderiam possibilitar uma fraude, mas recebeu críticas unânimes da classe política, inclusive do seu próprio partido.Trump, que enfrentará o democrata Joe Biden na votação de 3 de novembro, não tem poder para mudar a data das eleições. "Com o voto universal pelo correio (não a votação em ausência, que é boa), 2020 será a eleição mais IMPRECISA E FRAUDULENTA da história. Será um grande embaraço para os Estados Unidos", escreveu o presidente em publicação no Twitter.
E perguntou: "Adiar as eleições até que as pessoas possam votar corretamente, de forma adequada e segura???".
O tuíte do presidente foi publicado em um momento em que as estatísticas oficiais confirmaram que a economia americana entrou em recessão após registrar uma retração histórica de 32,9% no segundo trimestre.
Os Estados Unidos nunca adiaram uma eleição presidencial, nem mesmo durante a Guerra de Secessão (1861-1865), e é poco provável que isto aconteça agora. A Constituição dos EUA é clara: apenas o Congresso pode mudar a data das eleições, definida por lei em 3 de novembro, e os democratas da oposição controlam a Câmara dos Deputados.
Sobre o assunto, o Comitê Nacional Democrata reagiu classificando a proposta como "uma tentativa desesperada de desviar a atenção das cifras econômicas devastadoras. "Trump pode tuitar o que quiser, mas a realidade é que não pode adiar as eleições", acrescenta a nota.
No Partido Republicano, também houve repercussão. "Nunca, na história do nosso país, apesa das guerras, crises e da Guerra Civil, tivemos uma eleição federal que não tivesse sido realizada na data prevista", assinalou o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, à rede WNKY. O senador Marco Rubio, aliado de Trump, disse a jornalistas no Congresso que "queria que ele não tivesse dito isso".
Vários estados americanos querem tornar a votação por correio mais acessível para limitar ao máximo a disseminação do novo coronavírus. Muitos têm permitido esse sistema de votação há anos e não relataram grandes problemas além de incidentes isolados.
- Números em queda -
Saiba Mais
No fim de abril, Biden previu que o bilionário faria o possível para adiar a eleição. "Lembrem-se do que eu digo, acho que ele tentará adiar as eleições de uma maneira ou de outra, e encontrará razões pelas quais elas não poderão ser realizadas", afirmou.
Porém, alguns dias depois, o magnata, questionado durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, rejeitou categoricamente essa hipótese. "Nunca pensei em mudar a data. Por que faria isso?", questionou.
O tuíte presidencial que evocava a possibilidade de adiamento das eleições foi enviado alguns minutos após o anúncio de uma queda histórica no PIB dos EUA no segundo trimestre (-32,9%), como resultado da crise da saúde.
Com a economia em recessão, a pandemia do novo coronavírus ainda está fora de controle em algumas regiões do país, incluindo estados com governos republicanos, como Flórida e Texas.
O surto de COVID-19 forçou muitos estados durante os primeiros meses do ano a adiarem as eleições primárias, ou a mantê-las com menos postos de votação.
Os principais programas esportivos foram cancelados, ou reduzidos, e sérias dúvidas permanecem em grande parte do país sobre se escolas e universidades serão reabertas em setembro, após as férias de verão.
- Evidências escassas de fraude -
Com a proximidade das eleições, Trump tem se oposto energicamente às tentativas democratas de aumentar a disponibilidade da votação pelo correio, argumentando que este método promoverá uma fraude. Seus oponentes dizem que não há provas de fraudes significativas nas eleições locais, e que o que deveria ser promovido é um esforço maior para melhorar a logística da votação pelo correio.
Trump chegou à Casa Branca após uma vitória surpreendente contra a democrata Hillary Clinton, em 2016, e dedicou grande parte do seu governo a desafiar as normas existentes. As suspeitas sobre suas intenções crescem entre os democratas, na medida em que as pesquisas indicam que ele perderá em vários estados pendulares, nos quais a vitória é determinante para conquistar a presidência.
De acordo com uma média das pesquisas nacionais realizada pelo site RealClearPolitics, por seis semanas Biden esteve à frente de Trump em 8 a 10 pontos percentuais nas intenções de voto.
O ex-presidente Barack Obama afirmou, durante o funeral do congressista e ativista dos direitos civis John Lewis, que poucas eleições "foram tão urgentes. Todo mundo tem que sair para votar."
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.