Mundo

Quatro perguntas para Steven Levitsky

Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:06


professor de governo da Universidade de Harvard, especialista em autoritarismo e democratização
e coautor de Como as democracias morrem (Ed. Zahar)


Como o senhor vê a sugestão de Trump de adiar as eleições de 3 de novembro?
É mais uma evidência de que Trump tem instintos autoritários e pouco respeito pela Constituição. Mas não acho que ele possa se safar com isso. A lei é clara: apenas o Congresso pode mudar a data da eleição. A chave será se outros líderes republicanos apoiarão ou não Trump nisso. Suspeito que não o farão.


O presidente usou a credibilidade do voto pelo serviço postal como justificativa para a sua proposta. Há motivos para duvidar desse sistema?
Não há evidências de que o voto por correspondência prejudicará Trump ou os republicanos. Os estudos mostram que ele não tem efeito partidário significativo. De fato, dada a pandemia, o voto pelos correios é extraordinariamente importante. Acho que Trump sabe que a única maneira de ele vencer as eleições passa pela drástica redução do comparecimento às urnas — a restrição às opções de votação durante a pandemia faria isso. Ele também parece estar se preparando para deslegitimar os resultados da eleição — afirmar que o voto não foi justo, em caso de derrota. É bem provável que ele faça isso.


Qual o risco de a sugestão de adiar as eleições se virar contra Trump e prejudicá-lo nas eleições?
Nós estamos tão polarizados que nada que Trump faça mudará muito a opinião pública. Mas, suspeito que isso lhe causará danos entre os eleitores independentes e suburbanos — dos quais ele precisa para vencer.


Quais as chances reais de Trump ser reeleito?
São pequenas. Nas recentes pesquisas de opinião pública, está perdendo para Joe Biden em todos os estados críticos. Acho que Trump precisa melhorar a situação da saúde e da economia antes de novembro para ter uma chance de vitória. Ele não fez quase nada no front da saúde pública — assim como o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro — desde abril ou maio. O efeito disso é um tiro no pé. Pode ser tarde para se recuperar. (RC)





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