Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:06
A pouco mais de um mês das eleições legislativas em Hong Kong, 12 militantes pró-democracia tiveram suas candidaturas barradas, numa decisão denunciada pela oposição como um novo golpe às liberdades na ex-colônia britânica. Entre os vetados está Joshua Wong, um dos ativistas mais conhecidos da região semiautônoma e que foi um dos líderes da chamada Revolução dos guarda-chuvas, ocorrida em 2014.
O governo de Hong Kong manifestou, por meio de um comunicado, apoio ao veto às candidaturas, também elogiada por Pequim, enquanto os opositores denunciaram um “clima de terror”. Os cidadãos de Hong Kong escolhem, em setembro, os novos integrantes do Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local), que serão cruciais nove meses depois do triunfo do movimento pró-democracia nas eleições locais.
“Acabo de ser desqualificado para as eleições ao LegCo, depois de ter sido o grande vencedor das primárias”, anunciou Joshua Wong, em seu perfil no Twitter. Mais de 600 mil eleitores participaram das primárias organizadas pelos partidos independentistas, em meados deste mês.
Desprezo
Wong classificou a medida como a maior repressão contra o movimento pró-democracia da cidade. “Pequim demonstra um desprezo total pela vontade dos cidadãos de Hong Kong, pisa na autonomia da cidade e tenta manter a legislatura de Hong Kong sob seu firme controle”, acusou.
O líder oposicionista assinalou que foram barrados “quase todos os candidatos pró-democracia, de grupos de jovens progressistas até partidos moderados tradicionais”. Vários candidatos eliminados manifestaram-se nas redes sociais, como Gwyneth Ho, Lester Shum, Tiffany Yuen e Fergus Leung.
O Partido Cívico, uma das formações mais conhecidas do movimento pró-democracia, anunciou que não foram autorizadas as candidaturas de quatro de seus integrantes: Alvin Yeung, Dennis Kwok, Kwok Ka-ki e Cheng Tat-hung.
Exilado em Londres, o também opositor Nathan Law denunciou a “supressão de qualquer forma de resistência em Hong Kong por meio do medo e intimidação”. Por sua vez, Chris Patten, o último governador britânico de Hong Kong, criticou o “escandaloso expurgo político”, em uma nota. “Obviamente, agora é ilegal acreditar na democracia (...) É o tipo de comportamento que você poderia esperar em um Estado policial”, assinalou.
O Escritório de Ligação, a representação da China em Hong Kong, elogiou a rejeição das candidaturas. Argumentou que as opiniões políticas dos ativistas ultrapassaram a linha do aceitável. “Como o corpo legislativo de Hong Kong poderia permitir em sua câmara esses delinquentes sem escrúpulos que querem destruir o “um país, dois sistemas” e a prosperidade de Hong Kong?”, questionou a instituição, em um comunicado.
Composição
O Conselho Legislativo tem 70 membros designados de acordo com um sistema complexo, que assegura quase sempre vitória ao bloco pró-Pequim. Desse total, metade dos legisladores é designada por entidades vinculadas às diretrizes políticas chinesas. A outra metade é eleita.
Este ano, os movimentos pró-democracia esperavam traduzir em votos o sucesso da mobilização nas ruas no ano passado, a maior desde 1997, quando Hong Kong retornou à soberania chinesa.
Durante todo o segundo semestre de 2019, a ex-colônia britânica foi cenário de manifestações praticamente diárias para defender as liberdades e denunciar as interferências de Pequim. A popularidade das reivindicações foi confirmada nas eleições locais de novembro, marcadas pelo triunfo do campo pró-democracia, que controla, agora, 17 dos 18 distritos do território.
Em resposta, o governo de Xi Jinping tem endurecido as ações para conter o avanço dos pró-democracia. Há um mês, Xi assinou uma lei sobre segurança nacional para Hong Kong, considerada pelos críticos uma forma de silenciar os adversários. Anteontem, quatro estudantes envolvidos em um grupo pró-independência recentemente dissolvido foram detidos com base nessa nova legislação.
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