Correio Braziliense
postado em 05/08/2020 11:06
Eles são romenos, poloneses, malinenses ou tailandeses e chegam todo verão para colher frutas e verduras em estabelecimentos agrícolas europeus. Este ano, suas condições de trabalho, geralmente muito precárias, pioraram pela crise de saúde do coronavírus.
Na Baviera, 174 casos, 250 em Aragão e 170 na Provença: os exemplos de surtos de coronavírus não faltam em fazendas em toda a Europa desde o início deste verão.
Segundo Fernando Simón, epidemiologista chefe do ministério da Saúde da Espanha, "é muito possível que continue a surgir surtos associados a trabalhadores sazonais", enquanto as colheitas continuarão até outubro.
Apesar das restrições de viagem, é impossível para os produtores de frutas e legumes ficar sem essa mão de obra, geralmente do Leste Europeu ou da África.
Em maio, os agricultores de várias regiões da Itália fretaram voos com seus próprios meios para atrair trabalhadores romenos e marroquinos.
Ficar na Romênia "teria sido difícil", disse à AFP Maria Codrea, cuja renda anual depende muito da colheita nos vinhedos italianas.
O mesmo vale para os empregadores, que não estão dispostos a desistir dessa mão de obra barata: "Sem eles, não conseguiríamos", reconhece o agricultor espanhol Ignacio Gramunt.
A pesada carga de trabalho por salários muito baixos já gerava polêmica, e agora as condições de trabalho são especialmente criticadas em período de pandemia.
Na Espanha, na cidade andaluza de Lepe, dezenas de imigrantes africanos afirmam, por exemplo, que nunca foram submetidos a testes de detecção de coronavírus.
Eles acampam em frente à prefeitura desde que os barracos onde moravam sem água ou eletricidade foram incendiados há duas semanas por motivos desconhecidos e pedem uma realocação decente.
"Dormimos nesses colchões e papelão porque há 14 dias não temos qualquer resposta", lamenta Lamine Diakité, um trabalhador temporário malinense de 32 anos.
Na Itália, o governo prometeu em maio regularizar os trabalhadores temporários sem documentos. Mas, de fato, pouquíssimos produtores concordaram em pagar os 500 euros (cerca de US$ 590) necessários para esse ato administrativo, segundo a mídia local.
Muitos trabalhadores clandestinos vivem em condições deploráveis, suportando o sistema "caporalate", onde os intermediários que os conectam aos agricultores mantêm parte de seus salários.
Regras de higiene
Cada governo tenta aplicar sua receita para garantir condições decentes e monitorar melhor a chegada de trabalhadores sazonais de todo o mundo.
No sudeste da França, as autoridades impuseram obras em alguns estabelecimentos agrícolas para receber esses trabalhadores.
Na Alemanha, regras estritas de higiene foram definidas pelo ministro da Agricultura: os recém-chegados devem "viver e trabalhar estritamente separados de outros funcionários pelos primeiros 14 dias" e não "deixar o estabelecimento" durante esse período.
A Suécia, que recebe milhares de trabalhadores tailandeses todo verão, pede aos empregadores que mantenham distância durante suas viagens e acomodações.
Portugal foi mais longe, concedendo acesso gratuito aos serviços públicos aos indocumentados, uma medida que ajuda os trabalhadores temporários a chegar sem autorização.
A pandemia levou a uma queda acentuada no número de trabalhadores sazonais em algumas áreas, como na Alemanha, onde apenas 40 mil pessoas puderam ser localizadas neste verão, em vez dos 300 mil trabalhadores estrangeiros rotineiramente recrutados no setor.
Resta a solução aplicada pelo governo britânico, que recebe regularmente 70 mil trabalhadores sazonais a cada ano e que hoje lança a campanha oficial "Pick for Britain" para recrutar trabalhadores locais e enfrentar a escassez.
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