postado em 23/05/2019 04:08
As tecnologias da informação e telecomunicações são hoje as principais ferramentas para ganho de produtividade em qualquer setor. Assim como aconteceu com a máquina a vapor no século 19 e com a eletricidade no início do século 20, a tecnologia digital é atualmente o elemento mais importante para aumento de eficiência e ganho de competitividade.
Há 200 anos, a locomotiva a vapor transformou completamente a produtividade do mundo, a capacidade de mover cargas, alimentos, minérios. Há 100 anos, o mundo começou a se iluminar e novamente todas as indústrias se transformaram, das fábricas às cidades a partir da eletricidade. Há pouco mais de três décadas, entramos na primeira fase da era da informação. E, na próxima década, o 5G vai dar início à nova fase: a da digitalização.
Digitalização significa criar competitividade para o país em todos os setores e isso é ainda mais necessário em um mercado que não é mais nacional, mas global. No planeta, a média de exportações é 24% do PIB mundial (US$ 20 trilhões) de acordo a ONU. No Brasil, segundo o Ministério da Economia, esse número é de 12% do PIB (US$ 240 bilhões), metade do qual vinda de produtos primários. O baixo nível de exportações é consequência direta de não sermos competitivos em muitos setores.
O 5G será o grande indutor de investimentos no mundo na próxima década. E um país sem 5G, em alguns anos, certamente não atrairá novas indústrias. Seria como pensar em instalar uma fábrica hoje em um país sem energia elétrica, estradas ou aeroportos. Definir o 5G como item prioritário da agenda de competitividade do país é o primeiro passo para elevar a atratividade para novos investimentos no futuro. Esses investimentos têm a capacidade de elevar o nível de atividade econômica, criar empregos e arrecadação, induzindo novos investimentos em ecossistemas de inovação digital, num círculo virtuoso que precisamos iniciar.
Estudo recente aponta que mais de US$ 10 trilhões serão investidos na Indústria 4.0 na próxima década. A pergunta que fica é: onde ocorrerão os investimentos? Países que tiverem infraestrutura 5G madura certamente vão atrair a maior parte do capital. Essa é a oportunidade que tem o Brasil a partir de 2020. Um plano concreto para que o país possa se beneficiar do 5G deve estar baseado em três pilares.
O primeiro é a simplificação. A regulamentação hoje tem uma estrutura punitiva, não propositiva. Os mecanismos de autorregulação podem ser enorme avanço para o setor de telecomunicações. Não é razoável pensar em bilhões de reais de multas por causa de indicadores de qualidade. Outro exemplo é a questão da burocracia para instalação de novas antenas. Numa cidade que conte com a legislação municipal atualizada, do momento em que se decide instalar uma antena até a ativação, há prazo de cerca de um mês. Em cidades como São Paulo, isso pode levar de um a dois anos. Esse ritmo dificulta o avanço do 5G, que exigirá provavelmente 10 vezes a quantidade atual de antenas.
O segundo pilar é o espectro, ou seja, o intervalo de distribuição das ondas eletromagnéticas por meio do qual são transmitidos os dados. Historicamente, o espectro no Brasil tem sido o mais caro do mundo se comparado com a renda média do brasileiro. Em menos de um ano, teremos um leilão de espectro que vai definir os próximos cinco anos para o 5G.Qual caminho vamos tomar? Arrecadação ou investimentos? Uma coisa é certa: precisamos eliminar o viés arrecadatório dos leilões de espectro, pois esse modelo consome todo o caixa das operadoras e atrasa em anos os investimentos que seriam realizados. Se a implantação do 5G no Brasil atrasar em um ano, até 2025 o Estado terá perdido R$ 25 bilhões em arrecadação, considerando apenas os serviços e produtos que deixarão de ser vendidos.
O terceiro pilar é o ambiente digital, que precisa ser seguro e confiável. Em um mundo digital, onde todas as coisas estarão conectadas, segurança da informação passa a ser ponto extremamente crítico para os mais diversos setores da economia e também para a infraestrutura básica. No futuro, um ataque ou uma falha de segurança poderiam paralisar todo o sistema elétrico, de transportes, de saúde. A digitalização só vai prosperar se tivermos uma estratégia clara para abordar o tema de segurança cibernética, criando um ambiente digital seguro, confiável, que permita a digitalização de todas as verticais da economia e da sociedade.
Apenas com esses três pilares concretizados será possível avançar no desenvolvimento e implementação do 5G ; e, mais uma vez: não estou falando somente de nova geração das redes móveis, mas de uma plataforma para a digitalização de toda a economia e da sociedade. A revolução tecnológica será, sem dúvida, o mais importante fator de competitividade do país na próxima década, com enorme capacidade de induzir inovação e atrair investimentos, trazendo impactos diretos na qualidade de vida das pessoas.