postado em 27/05/2019 04:06
O empreendedor brasileiro é, antes de mais nada, uma pessoa inconformada com os problemas da sociedade, alguém que está disposto a fazer mudanças, sejam elas na forma como trabalhamos, nos locomovemos ou até cuidamos de nossa saúde. A forma de empreender mudou muito com os avanços da tecnologia, mas quem deseja seguir esse caminho ainda precisa de coragem e paciência para superar burocracias e legislações defasadas.
Mesmo com os entraves do Estado, o brasileiro mostra que tem competência para empreender. Em 2018, cinco startups brasileiras entraram no grupo de unicórnios, ao serem avaliadas em um valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão. Nesse mesmo ano, foram registradas 1.262.935 novas companhias no país, segundo dados do Serasa Experian. De acordo com a ABStartups, entre 2012 e 2017, o mercado de startups brasileiras saiu de 2.519 para 5.147 empresas. Hoje, esse número deve ser ainda maior. A própria ABStartups estima que existam de 10 a 15 mil novas empresas, apesar de muitas delas ainda estarem na fase das ideias e ainda não possuírem o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica).
O estudo Doing Business 2019, realizado pelo Banco Mundial, indica que o Brasil melhorou as condições para se fazer negócio no mercado local. O material indica que essa melhoria se dá pelo lançamento de sistemas on-line para criação de registros de empresas, licenciamento e notificações de emprego; além do acesso à informação de dados históricos de crédito, redução de tempo em processos de importação e a reforma trabalhista, que dá mais flexibilidade para relação entre os trabalhadores e os empregadores. Ainda assim, o Brasil está em 109; na lista de economias com mais facilidade para fazer negócio. Ficamos atrás de outros países da América Latina, como México (54;), Colômbia (65;) e Peru (68;).
Descomplicar o processo para abertura de empresas é, de fato, o ponto crucial para que o país passe a ser um ambiente fértil para os empreendedores. E, aparentemente, estamos caminhando para uma melhora significativa neste ponto. Segundo o mesmo estudo do Banco Mundial, o tempo necessário para abrir um negócio no Brasil caiu de 82 dias para, em média, 20 dias no último ano. Mas ainda temos problemas evidentes, como o número de procedimentos necessários para abrir um negócio, um total de 11, e a dificuldade de se conseguir empréstimos nos bancos que ainda exigem como garantia bens como a própria casa ou o carro como hipoteca.
Com esse resultado, entendemos que o país precisa de uma transformação profunda para melhorar o ecossistema empreendedor, oferecendo serviços digitais que aumentam a rapidez dos processos e facilitam ; em vez de complicar ; o início de um empreendimento. Temos tecnologias disponíveis para isso, como o blockchain, que está sendo estudado pelo governo alemão em uma consulta pública, porque eles entendem que esse tipo de solução vai além da gestão de criptomoedas, mas também para simplificar registros e a abertura de novas empresas. Autenticar assinatura em um cartório, por exemplo, é um processo que deve ser abolido, se podemos fazer isso de forma digital, com baixos custos operacionais e mais rapidez.
As reformas que o governo está propondo, neste momento, são essenciais para que a máquina pública se torne mais leve, mais ágil e com maior capacidade de previsibilidade. Não podemos contar com legislações com mais de três décadas, enquanto planejamos as próximas cinco. Precisamos de um arcabouço de leis e regras que suporte esse ecossistema digital das startups. Essa é a nova dinâmica que o investidor procura, mas ele precisa de legislação sofisticada, transparente e rápida para poder confiar no mercado que está aplicando o seu capital. Mas, enquanto as reformas não acontecem, seguimos contando com a veia empreendedora destes milhares de brasileiros, pois, se tem uma variável que não mudou, é que negócios bem-sucedidos nascem de muita coragem, velocidade e desejo de fazer diferente.