Opinião

A vocação internacional do agro brasileiro

postado em 30/05/2019 04:19

No final dos anos 70, escutei pela primeira vez que o Brasil se tornaria um grande exportador de carne bovina, um dos maiores do mundo. Na época, sendo pecuarista no interior da Bahia, não pude conter a incredulidade perante tal ideia. Parecia impossível transformar a cadeia desorganizada e primitiva, que mal atendia o mercado interno, na agroindústria altamente especializada e internacionalizada que vemos hoje.

O caminho de sucesso dessa indústria é apenas um exemplo da história do agronegócio brasileiro, que poderia muito bem ter sido contada a partir da cana, da soja, do frango, do suíno, do suco de laranja, entre tantos outros produtos do agro que hoje garantem a segurança alimentar de consumidores em todo mundo.

Quase 40 anos depois daquela conversa visionária sobre o futuro da pecuária, em 2018, o Brasil ultrapassou a impressionante marca de 100 bilhões de dólares em exportações do agronegócio. As vendas para o mercado internacional permitiram ao setor ganhar escala, aumentando exponencialmente a produtividade e os investimentos em pesquisa e tecnologia, fatores indispensáveis para explicar a atual competitividade do agronegócio brasileiro.

Apesar de termos feito muito, a partir do gigantesco esforço coordenado dos setores público e privado para transformarmos o país de importador de alimentos em exportador, ainda temos um longo caminho para consolidar nossa presença internacional. Hoje respondemos por pouco mais de 7% de todos os produtos agropecuários comercializados no mundo, pouco diante de nosso potencial. Especialmente, quando consideramos que nossa pauta exportadora é fortemente concentrada em cerca de 10 produtos.

Segundo projeção do Ministério da Agricultura, estima-se que a produção de grãos pode aumentar 30% em 10 anos. Isso porque, o produtor vai continuar fazendo o que sabe: produzir com eficiência e com agregação de tecnologia. Em ritmos variáveis, praticamente todos os produtos da agricultura e da pecuária brasileira também vão ter forte crescimento.

Com relação ao aumento da oferta, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) acredita que o maior desafio é conseguir aumentar a inserção de pequenos e médios produtores rurais nas cadeias exportadoras. Para isso, precisamos de melhorias nas condições internas de competitividade e estímulos a arranjos produtivos que permitam a internacionalização de novos setores, como o de produtos lácteos, por exemplo. Se formos bem-sucedidos nesse objetivo, vamos finalmente elevar a renda de imensos segmentos da população rural, que até hoje tem ficado à margem do progresso do agronegócio.

Se do lado do produtor rural buscamos incentivar a produtividade e a diversificação de produção para exportação, na outra ponta precisamos encontrar novos mercados para atender a oferta de produtos agropecuários, que será crescente no Brasil.

Quando analisamos os dados de comércio dos últimos 20 anos, percebemos o crescimento consistente da presença dos países da Ásia, com destaque para China, e do Oriente Médio como destino das exportações agropecuárias do Brasil. Isso se explica pelo forte crescimento econômico da região e da redução dramática dos níveis de pobreza da sua população, que resultam no aumento do consumo das famílias e, consequentemente, na compra de alimentos. Esses dados são um bom indicativo de onde o Brasil deve olhar para melhorar suas parcerias comerciais.

Atenta a essa tendência, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, realizou recentemente uma grande missão empresarial em quatro países asiáticos: Japão, China, Vietnã e Indonésia.

A CNA acompanhou a missão e pode perceber que, apesar de nosso bom desempenho no mercado internacional, os produtos do Agro ainda enfrentam grandes barreiras tarifárias e não tarifárias para acessar os mercados consumidores.

Para mudar essa realidade, a CNA entende que, no âmbito internacional, precisaremos vencer dois grandes desafios: maior presença do setor privado nos mercados de destino e melhor inserção internacional por meio de rede de acordos internacionais.

Casos interessantes, que ilustram a necessidade de presença internacional para aumentar o comércio, são os do Chile e da Austrália. A Agência de Promoção de Exportações do Chile, a PromChile, possui escritórios comerciais em mais de 56 países, promovendo os produtos chilenos em parceria com o setor privado. A Austrade, da Austrália, possui representação em 50 países para promover, em cooperação com as empresas, seus produtos nos mercados de destino.

No Brasil, a Apex-Brasil tem apenas sete escritórios no exterior. Podemos aprender com os exemplos de sucesso de outros países e ampliar nossa presença, com maior número de representações da Agência brasileira, mas também de empresas e entidades de representação setorial e, inclusive, da própria CNA.

Com relação à remoção de barreiras tarifárias e não tarifárias às exportações agropecuárias do Brasil, precisamos aproveitar o momento em que temos um governo de posições liberais para concluir o maior número de acordos comerciais que garantam melhor acesso aos mercados da Ásia e do Oriente Médio.

O agronegócio vem se preparando há anos para esse desafio, para produzir e promover os alimentos que estão garantindo a segurança alimentar de milhões de pessoas em todo mundo. Podemos e devemos ampliar e aprofundar nossa presença no mundo, se conseguirmos uma real cooperação entre as cadeias produtivas e o setor público.




Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação