Opinião

Lobby não é pecado, mas...

postado em 12/06/2019 04:16

O ser humano passa uma vida sobre a Terra defendendo a todo minuto os seus interesses. Independe a cor, a classe social, o conhecimento e a profissão. O exercício de lutar por interesses, benefícios, atenção e pela própria sobrevivência exige que o homem, de maneira solitária ou grupal, se organize e reivindique o que acredita ser seu. O choro ao nascer pode ser rotulado como primeiro pleito na vida: ;Oi pessoal, me devolve aquele meu ambiente quentinho, tranquilo e seguro onde eu estava!”, sem desconfiar de nada do que o espera no futuro.

A vida não é uma estrada simples de trilhar. A escassez, no sentido macro, nos ensina que é preciso lutar e defender nosso interesse em qualquer área de atuação. Qualquer que seja o modelo político, desde cedo entendemos que as oportunidades são mais facilmente atingidas se corrermos atrás delas. A atitude de buscar um direito ou defender um interesse ao longo do tempo se tornou prática profissional, moldou procedimentos e ensinou caminhos e atalhos dentro da mais correta lisura, uma vez que a lição ao longo dos tempos deixou patente que os recursos são escassos.

Na pátria de liberdade e da democracia, os Estado Unidos, o corpo a corpo na busca dos interesses foi rotulado de lobby, e a palavra se consagrou e rodou o mundo. O lobby nunca foi e não é pecado, mas... debaixo do guarda-chuva da defesa de interesses, práticas pouco ortodoxas foram patrocinadas e macularam de morte a expressão quando se fala de ética e compromisso com a legalidade e a verdade. No Brasil, a profissão cresceu e ganhou corpo a ponto de ter sido reconhecida no final do ano passado pelo Ministério do Trabalho e reconhecida no Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO) como relações institucionais e governamentais.

Ao mesmo tempo, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei n; 1.202, de 2007, que aguarda aprovação do plenário, dispõe sobre a regulamentação do lobby para que os profissionais possam fazer seu trabalho sob a luz dos holofotes da identidade e do conhecimento geral dos interesses defendidos.

Como não podia ser diferente, os profissionais de lobby legítimos se agregaram e criaram, há uma década, a Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), que saiu de 60 associados no início da atividade e ultrapassa hoje a casa dos 700 membros em todo o país, demonstrando a força e a união dos profissionais que erguem a bandeira da legalidade e da ética na defesa de interesses legítimos e na transparência de suas ações.

A grande verdade é que todo mundo pratica o lobby na defesa de suas causas. O governo federal mantém estruturas próprias dentro do Legislativo para lhe defender os projetos. Essa é a maior das justificativas para que a casa parlamentar se abra ao diálogo da transparência. A convivência diária de profissionais de relações governamentais com as lides do Congresso e em gabinetes no Executivo fazem desses defensores de interesses conhecedores de práticas e atalhos que um cidadão comum levaria anos para aprender e dominar. Daí o seu valor. Nada diferente de um grande médico ou de um cientista famoso: a competência e o conhecimento fazem o valor do profissional e o diferenciam na área de especialização.

Empresas e entidades devidamente amparadas por profissionais especializados na luta pelos pleitos governamentais têm reais dificuldades de fazer valer os interesses. O que dirá o cidadão ou homem de negócios que percorre a capital sem conhecer os caminhos do poder? Há algum tempo, os fatos ligados à corrupção e práticas pouco ortodoxas da política em geral demonstraram que lutar por uma causa nada tem a ver com os operadores de propina e intermediários da corrupção que sempre acharam na palavra lobby uma denominação mais suave para as atitudes criminosas. Lobby não é pecado, mas muitos pecadores tentaram fazer dele instrumento para deixar na sombra confissões pouco republicanas não assumidas de público e de pesadas penitências.



Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação