Opinião

Visto, lido e ouvido

postado em 12/06/2019 04:16
O preço do improviso

Entra e sai governo, e a questão fundiária do Distrito Federal prossegue no mesmo impasse e com um agravante: a cada ano, o problema se expande devido a uma série de novas ocupações irregulares que se sobrepõe a outras mais antigas e enroladas juridicamente, o que torna o processo de regularização urbana uma espécie de novela, que se arrasta indefinidamente e sem solução adequada e racional à vista. Pior: as regularizações realizadas até agora foram a toque de caixa, com o respaldo da Câmara Legislativa.

Também não poderia haver outra maneira de se contornar um problema que nasceu de forma enviesada, apenas para dar sustento a determinados grupos de políticos e de empreendedores ávidos por lucros e benefícios a qualquer custo. Nesse caso, o custo é de todos e vai se avolumando, conduzindo-nos à quase inviabilização da vida urbana em toda a capital, submetida a medidas impostas de afogadilho e sem qualquer planejamento de longo prazo, como é exigido em qualquer cidade que se preze. Bem sabemos quando isso teve início. O que não se pode imaginar é aonde isso tudo vai nos levar. Basta ver que lotes doados foram vendidos, o que deveria ser expressamente e efetivamente ilegal, com consequências a se impor.

O problema com os políticos de plantão e mesmo com empreendedores locais é que o horizonte deles se estende por apenas quatro anos. O nascimento e a vida das cidades, principalmente aquelas de grande porte e importância, se medem por séculos e até por milênios. O que se sabe sobre esse longo ciclo de muitas metrópoles nos é dado pelas inúmeras experiências históricas.

É comum as cidades mais longevas respeitarem um planejamento urbano metódico que, em sua fórmula, se perpetua no tempo. Nenhuma cidade deste planeta logrou sobreviver de improvisos e de medidas aleatórias e imediatistas adotadas pelos governantes. Soa como quase surreal que, justamente a primeira cidade modernista do mundo, planejada nos mínimos detalhes por um dos maiores urbanistas de todos os tempos e que maravilhou a todos, continue sofrendo ataques diários, tendo seus espaços vitais ocupados de forma caótica e sem estudos de possíveis impactos a médio e longo prazos.

O pior é que esse desenvolvimento desordenado e sem critérios técnicos vai se sobrepondo a leis e regulamentações feitas às pressas para dar algum arremedo legal ao que, em sua origem, é flagrantemente irregular e prejudicial à cidade. Não surpreende que 90% dos processos de regularização e legalização de terras tenham sido efetivados de forma conclusivas nos últimos 10 anos.

O volume de áreas a ser regulamentadas se somam a centenas e o número de loteamentos já ultrapassam a casa de dezenas de milhares. Esse é o resultado claro da ação contínua dos agentes de grilagens de terras, muitos incentivados por políticos inescrupulosos e pela ação displicente das autoridades por décadas. O que vai se sucedendo com essa cidade é exatamente a história de uma agonia anunciada a tempos, por Ari Cunha, neste mesmo espaço desde a entrada em cena dos políticos locais, facilitada pela independência malsã da capital a partir dos anos1990.


A frase que foi pronunciada:

;Diziam que eu era antidemocrata porque sempre me posicionei contra a instalação de um Poder Legislativo na capital da República. Havia maior independência e melhor uso da verba recebida pela cidade.;

Ari Cunha, in memoriam, criador da coluna Visto, Lido e Ouvido]


Trabalho

; Por falar nisso, foi aprovada na Câmara Legislativa a ideia de tornar obrigatória a exibição em ônibus de transporte público filmetes contra a violência. É um bom veículo para transmitir dicas de urbanidade. Salas de cinema comerciais também serão obrigadas a divulgar os filmetes. Bastava ser uma contrapartida à concessão e um acordo com as salas de cinema. Não precisaria ser lei.


Assinado

; Institutos de pesquisa publicaram verdadeiros absurdos nas eleições passadas. Visivelmente trabalhos encomendados para esse ou aquele candidato. Parece que essa orgia informativa vai acabar. Nas próximas eleições, as pesquisas de opinião terão o nome dos estatísticos responsáveis publicado. O projeto do ex-deputado federal Joaquim Francisco dará ao estatístico profissional a responsabilidade técnica pelo trabalho.


Boas-novas

; Depois que Plínio Mósca se mudou para Porto Alegre, muita coisa mudou na terra de Mário Quintana. Como membro do Conselho de Cultura do Rio Grande do Sul, ele ocupa uma das vagas pertencentes às ciências humanas e traz o seguinte convite que pode, inclusive, ser inspiração para Brasília. O Instituto Federal do RS, câmpus Porto Alegre e o Conselho Estadual de Cultura do RS convidam para o ato de conclusão do curso de extensão de gestão em artes circenses, o primeiro curso do gênero oferecido por uma instituição pública de ensino no Brasil. Todos os artistas de circo gaúchos de agora em diante, poderão conhecer técnicas de segurança profissional, seus direitos e deveres com as próximas turmas que serão oferecidas. Desde já se prevê, inclusive, o nascimento de um sindicato especializado para a área do circo, a mais antiga das formas de arte e, até então, vista como prima pobre das artes cênicas. Mais informações no Blog do Ari Cunha.


História de Brasília

Já que o assunto é Aeronáutica, os postes de iluminação do pátio de manobras do Aeroporto de Brasília estão prontos para entrar em funcionamento. Basta apenas uma ordem do gabinete do ministro. (Publicado em 22/11/1961)



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