Opinião

Brutal, banal e sem limites

postado em 21/06/2019 04:17
O drama vivido pela diarista Marina Izidoro de Morais, 63 anos, é daqueles casos que chocam pela brutalidade, pela banalidade e pela falta de limites no trânsito. Na noite do sábado passado, a diarista tentava complementar a renda familiar vendendo balões de gás hélio na porta de uma escola particular de Taguatinga Sul. Depois de mais de 11 horas de trabalho, foi abordada por um motorista de uma Mercedes avaliada em mais de R$ 200 mil. Eles não se entenderam sobre a venda da mercadoria, uma passageira do carro agarrou os balões, o vidro do veículo foi fechado e o condutor arrancou.

Dona Marina ficou presa às cordas que seguravam os balões. Foi arrastada por mais de 100m pelo asfalto. Sofreu lesões no rosto, nas pernas e no braço. São vários os hematomas. Sobre o que ocorreu naquele dia, fica a lembrança dos momentos de desespero. ;Achei que ia morrer. Quando essa imagem passa na minha cabeça, fico desesperada, porque foi uma cena horrível. Estou completamente traumatizada;, recorda.

À polícia, o motorista da Mercedes, William Weslei Lelis Vieira, de 34 anos, disse que fez uma ;brincadeira; e não percebeu que estava arrastando a senhora de 63 anos. Os investigadores apuram agora se Lelis Vieira assumiu o risco, agindo com propósito de violência, e se tinha consciência do ato. O veredito policial será importante para definir se ele será acusado de lesão corporal de trânsito; tentativa de homicídio; ou lesão corporal com a intenção de praticar um crime.

Como não poderia deixar de ser, o terror vivido por dona Marina provocou grande comoção. Em uma semana recheada de temas com grande apelo popular, como a sabatina do ministro Sérgio Moro na CCJ do Senado e os desdobramentos do cruel assassinato do menino Rhuan Maycon, as três postagens do Correio Braziliense que tiveram maior audiência nas redes sociais são sobre esse caso ocorrido na fria noite de sábado em Taguatinga.

A indignação dá o tom dos comentários dos leitores. ;A cada dia, fico mais pasma com certas ações das pessoas. Completamente sem noção, sem caráter, sem senso de responsabilidade. Se ele achou a ;brincadeira; engraçada, está completamente fora da realidade;, escreveu, por exemplo, Eleny Marques.

Casos como o de dona Marina são reflexo da falta de compaixão nas ruas da capital federal. A violência no trânsito é, sim, uma epidemia no país. Se em números absolutos a quantidade de casos fatais é bem menor do que os de 20 a 25 anos atrás, por outro lado, há o desafio de seguir com a conscientização dos motoristas com campanhas inovadoras. No asfalto, não há espaço para brincadeiras.





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