postado em 23/06/2019 04:17
O Brasil, assim como os outros países da América Latina, enfrenta hoje o momento de decidir qual o caminho para o futuro, de forma que crescimento social e econômico andem juntos, no longo prazo. As decisões a serem tomadas agora mudarão o futuro de cada nação por muito tempo, várias décadas. Um dos grandes desafios que se descortina nesse sentido é buscar um planejamento que aponte objetivos que ultrapassem os riscos e oportunidades do curto prazo e contribuam com a solução exitosa dos principais desafios de desenvolvimento do país.
Historicamente, muitos países latino-americanos apontam para soluções mais tentadoras, que ocupem o espaço da bola da vez, em lugar de construir difíceis consensos e pactos políticos destinados a resolver questões mais estruturais. E a consequência desse estilo de abordagem é que, apesar dos episódios de crescimento registrados nos 200 anos de vida independente que nossos países têm (por exemplo, na segunda metade do século 19 ou na primeira década deste século, o boom das commodities), não conseguimos ocupar espaços decisivos no campo do desenvolvimento, que se traduzem em melhores instituições ou crescimento estável das classes médias ou políticas fiscais suficientemente sólidas.
No caso brasileiro, as evidências e estudos apontam que os desafios da melhoria da produtividade passam pela falta de dinamismo econômico, causados por uma série de fatores criados ao longo dos tempos, como a excessiva cartorialização e estatização, além de pouca eficiência, mercados disfuncionais e custos de produção elevados. A capacidade competitiva do país perante o cenário global e a atuação de outras nações foram, assim, ficando cada vez mais distante da ideal.
Para quebrar tal tendência histórica, os países da região deveriam se posicionar melhor taticamente e atuar com visão para um longo horizonte; deveríamos ser mais estratégicos e articular bem as dimensões política, econômica e social de nossos cenários hoje e no futuro. Assim como nos anos 1980 tivemos que buscar consensos e trabalhar pela estabilidade macroeconômica e nos anos 2000 apostamos na transformação social na busca da igualdade, chegou o momento de buscar, decididamente, um pacto político pela produtividade na América Latina.
Gerar crescimento econômico mais abrangente e também de longo prazo, preservar os ganhos sociais dos últimos anos, obter mais recursos fiscais para aprofundar as reformas estruturantes e melhorar os sistemas de transparência e de eficiência do Estado são objetivos prioritários desse grande consenso político tão necessário. Se alcançássemos tais quesitos, não dependeríamos tanto da direção dos ventos financeiros internacionais e sofreríamos menos os impactos das turbulências políticas locais.
Atualmente, a região apresenta níveis de produtividade muito baixos em todos os setores econômicos ; principalmente relacionados à alta informalidade no trabalho ; e também entre trabalhadores formais, algo geralmente ligado a baixos níveis de produtividade na empresa média em todos os setores. Como resultado, nossa produtividade de trabalho é de cerca de 30% em comparação com a registrada nos Estados Unidos, em contraste com o Reino Unido, 75%, Austrália, 82% ou Alemanha, 90%.
A defasagem é explicada, em grande medida, por uma série de fatores que vão desde baixos níveis de inovação, dificuldade de acesso a financiamento para empresas e indivíduos, lacunas na adoção de novas tecnologias, além de problemas regulatórios e barreiras logísticas e tarifárias. Países como Panamá, Peru e Paraguai começam a reagir e a quebrar essa tendência com medidas voltadas para melhor produtividade.
Com o objetivo de ampliar esse debate na região, o CAF ; Banco de Desenvolvimento da América Latina ; tem promovido estudos e eventos sobre o tema, além de incluir o objetivo de melhoria da produtividade, quando possível, em projetos financiados. O Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED), sob o título Instituições para Produtividade: em prol de um melhor ambiente empresarial, detalha o tema e os caminhos possíveis para alcançar uma América Latina mais produtiva e inovadora.
A oportunidade de participar da competição global por mercados e conhecimento é oferecida a todos. Cabe aos países da região buscarem suas capacidades para implementar um desafio político de focar nos caminhos para a produtividade, de maneira a promover e consolidar o crescimento e a inclusão social dos latino-americanos.