postado em 23/06/2019 04:17
Repercuto crônica de Tom Mitchell, do Financial Times, sobre o embate entre os Estados Unidos (EUA) e a China. Na escalada do conflito comercial entre os dois países, filmes chineses sobre ;A Guerra para Resistir aos EUA e Ajudar a Coreia (do Norte), da década de 1950, voltaram a aparecer no horário nobre da tevê estatal chinesa. Apontam para o que será um conflito comercial longo com Washington, na suposição de que Trump venha a reeleger-se;.
Relutante em aceitar as cláusulas humilhantes exigidas por Donald Trump, Xi Jinping, o presidente da China, prepara-se para comandar seu país em um conflito comercial total com a principal potência econômica e tecnológica, da mesma maneira que Mao Tsé-Tung enfrentou forças americanas durante a Guerra da Coreia, por quatro longos e sangrentos anos, na década de 1950.
;A exemplo da decisão de Mao de entrar no conflito coreano, a decisão de Xi parece, à primeira vista, uma escolha temerária. Setenta anos atrás, as mal-equipadas tropas de Mao enfrentaram uma força militar americana tecnologicamente superior na Coreia. Além disso, após 30 anos de um crescimento próximo de dois dígitos, a economia chinesa, a segunda maior do mundo, ingressou num período de desaceleração, o que resulta em crescentes aflições nos círculos de classe média e de empreendedores privados, chineses e estrangeiros lá estabelecidos, inclusive americanos;.
Mas, assim como as forças chinesas que, por fim, travaram um combate com os EUA até um impasse na Coreia, ao lançar um grande número de soldados maltrapilhos contra a superioridade do poder de fogo americano, Xi considera que pode comandar uma batalha bem-sucedida, de toda a sociedade, na disputa comercial e goza de duas nítidas vantagens em relação a seu adversário americano.
A primeira, são instrumentos de controle com os quais Trump pode apenas tuitar. As instituições americanas, como o Federal Reserve (FED), o BC americano) ou a Câmara dos Deputados, resistiram à pressão do líder dos EUA, mas, para Xi, basta estalar os dedos para que o governo, o Legislativo, a mídia e o sistema bancário da China, controlados pelo partido, cumpram suas determinações.
O Partido Comunista chinês tem corretoras, bancos e gigantes estatais para fazer compras de ativos nos mercados chineses quando necessário. Quando o principal índice de ações da Bolsa de Xangai (SCI, nas iniciais em inglês) despencou quase 6%, para 2.906 pontos, no dia seguinte, a mais recente escalada da guerra comercial, pessoas, a par da reação do governo chinês, disseram que o limite tolerado de queda era até 2.900 pontos. No dia seguinte, o SCI subiu.
A segunda vantagem de Xi é a noção de ressentimento histórico contra potências estrangeiras que, anteriormente, ;assediaram; e ;humilharam; a China. Quando as exigências iniciais dos negociadores comerciais do governo Trump foram vazadas, em maio do ano passado, a indignação sentida por muitos chineses foi autêntica. Friedrich Wu, professor da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, resume os sentimentos de muitos quando as descreve como ;uma lista de exigências de rendição para a China aceitar;.
Trump precisa enfrentar poderosos grupos de interesse ; agricultores, Wall Street, varejistas, consumidores e uma mídia livre, entre outros ; que reclamam ruidosamente do custo das tarifas sobre os produtos importados da China e duvidam do bom senso dessa estratégia.
A China torna a vida de americanos mais barata. Com as sobretarifas de Trump, as coisas ficam mais caras e o consumidor estrila. Os EUA não têm a mínima chance de vencer a guerra comercial com a China e serão ultrapassados economicamente em 2025. O que mais irrita é a falta de apetite da China de expandir seu território ou de ameaçar belicamente os EUA. O tigre não mostra dentes nem unhas, fala em cooperação. É desconcertante a política externa da China. Conquistou a África e está sempre acalmando os vizinhos. Armada até os dentes, tem como aliado incondicional a Rússia de Putin.
Trump é um esnobe de Nova York, oriundo do desleal e competitivo mercado imobiliário dos EUA. Sua tática é agredir, morder, ameaçar para, depois, obter acordos vantajosos ou soltar fogos de artifícios, como no caso da Coreia do Norte. Na verdade, ameaçou Kim e, depois, disse ;não vou te atacar, se modere; e deu por finalizado um conflito altamente artificial com um país pequeno, isolado, malfalado, que procura com unhas e dentes armar-se para se defender.
Os americanos gostaram muito mais dos tempos de Obama do que da estridência e do nervosismo do governo de Trump. Esperemos as eleições que se avizinham. São fatos que indicam o futuro. E tudo indica um dilema crucial: A ;pax americana; com diplomacia força o comércio ou uma terrível e altamente destruidora guerra. Dá-se que o ponto ômega está próximo: a China lidera a corrida mundial da tecnologia G5.