postado em 25/06/2019 04:16
Em busca da autocrítica
;Se você nos vaia, você está vaiando seu país;. A afirmação de Daniel Alves, lateral-direito da Seleção Brasileira masculina de futebol, pede uma análise profunda por parte de cada cidadão. Não só uma possível censura ao atleta e à declaração ; no mínimo, polêmica ;, mas, sobretudo, um pensamento autocrítico sobre o papel do indivíduo e da coletividade na construção de um país melhor. Em um momento em que a divisão político-ideológica separa amizades e familiares, o que realmente é pura sabotagem para contrariar o ;adversário; e o que se transforma em sincero apontamento de um erro a ser consertado, um defeito a ser corrigido? Não há nada de ruim em admitir a própria falha, nem aceitar que outros estejam certos e você, não.
Em primeiro lugar, Daniel Alves foi injusto. Ele, que saiu de uma situação de pobreza extrema na Bahia para brilhar e ser o jogador de futebol com mais títulos no planeta, deveria entender a cobrança do torcedor brasileiro. Uma pessoa que paga os impostos em dia, cumpre com os deveres sociais e não faz parte de nenhum esquema de corrupção, quando vaia o time montado e pago pela Confederação Brasileira de Futebol, simplesmente está criticando aqueles jogadores, aquela equipe. Mesmo que aquele conjunto represente o Brasil, ele, definitivamente, não é o Brasil. Na minha compreensão, a CBF é uma entidade privada, que usa símbolos brasileiros, mas nem admite que o Poder Público interfira em suas ações. Há muito o que se discutir aí, mas não dá para negar ao torcedor o direito de apontar os erros da Seleção.
Ora, eu não deixo de ser patriota se critico o Executivo, o Judiciário ou o Legislativo. Pelo menos, se faço isso visando única e simplesmente o crescimento do país e a melhora da parte mais pobre da população. Se contribuo com soluções, então, a crítica se torna ainda mais construtiva. Tenho o direito de dizer que o presidente Jair Bolsonaro anda falando demais ou dando muita atenção para os discursos dos filhos dele; que deputados e senadores deveriam se empenhar mais para aprovar a reforma da Previdência; que os ministros do Supremo podiam se limitar a explicar os votos, sem dar opiniões prévias a este ou aquele jornalista. Tudo isso, definitivamente, não significa que eu esteja ;torcendo contra;.
Afinal, mesmo quando um país entra em guerra, existem aqueles que são contra o confronto bélico, e eles não deixam de ser patriotas por causa disso. É o direito daquele cidadão. Pelo menos, em uma sociedade democrática. Entretanto, é preciso se despir das vestimentas da vaidade para receber críticas, para perceber, por um segundo, que uma mudança pode ser fundamental. Um erro cometido é tão somente uma oportunidade de reconstrução. Basta aceitar que aquele que aponta a falha não necessariamente é seu inimigo. Nesse caso, o pior adversário é você mesmo.