Opinião

É só o amor

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 26/06/2019 04:15
A cada 23 horas, morre uma pessoa no Brasil. O motivo? Ser homossexual. O país onde mais se assassina membros da comunidade LGBTQ no mundo é, também, aquele que se proclama baluarte da democracia e das liberdades civis. No Brasil, a expectativa de vida de um transexual chega a 35 anos. Por aqui, pai e filho já foram espancados nas ruas porque se abraçavam, após serem confundidos com um casal gay. Por aqui, a retórica do ódio e do preconceito vem ganhando força e se arrastando sobre conquistas obtidas a suor e sangue. Quando a máxima autoridade do Estado critica a criminalização da homofobia e da transfobia e diz que Brasil não pode ser um país do mundo gay, endossa a discriminação e, mesmo que indiretamente, contribui com a violência contra os LGBTQ. Em 13 de maio de 2018, nós, do Correio Braziliense, perdemos um colega. Rubens Bonfim Leal, 35 anos, morreu por causa de sua orientação sexual. Mais de um ano depois, o assassinato segue impune, e o vazio se torna ainda maior ante a injustiça.

Por que o amor alheio incomoda tanto? Por que a felicidade e a vida privada do outro são motivos para a insatisfação de quem se julga ;normal; ou ;dentro dos padrões sociais;? Uma sociedade repressora, ultraconservadora e antiquada perde o bonde da história e se enterra no passado. Longe de proselitismo religioso, tantas vezes fadado ao fanatismo, o ser humano precisa avaliar o próximo também como ser humano. A ;heteronormatividade; equivale a ir contra a tendência mundial de aceitar as diferenças. Hetero ou homossexual, antes de tudo existe um cidadão que merece o máximo de respeito e de dignidade.

O Ceará tomou a dianteira na política de combate à homofobia e passou a implantar um sistema de denúncias contra de agressões contra pessoas LGBTQ. As delegacias do Estado também passarão a contabilizar oficialmente os casos. É um passo importante para a mudança de paradigmas e a redução de crimes contra essa parcela da população. Mas as autoridades precisam fazer mais. Campanhas de conscientização da opinião pública sobre a tolerância e a diversidade também são urgentes. É necessário separar dogma e razão. Não permitir que doutrinas corrompam e ameacem direitos. E que a ignorância não dissemine o ódio.

No fim de tudo, é só o amor. O que poderia haver de errado em duas pessoas que se amam e que desejam construir uma vida juntas? Por que governos e religiões querem controlar e restringir a felicidade alheia? A cada discurso divisivo, a cada dose de preconceito, as mãos de quem deveria acolher e proteger o cidadão se mancham de sangue. Até quando?





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