postado em 03/07/2019 04:06
A baixa qualidade do ensino no Brasil não é novidade, conforme mostram as incontáveis pesquisas de órgãos governamentais e entidades independentes voltadas para tema tão sensível. A melhora do quadro atual fica mais distante quando se constata a disparidade entre os salários dos professores do ensino básico com formação universitária e profissionais de outras áreas de atuação com o mesmo grau de escolaridade. Hoje, um educador que cursou uma universidade ganha até 30% menos do que um profissional com formação correspondente. Mais: a diferença entre os ganhos pode ultrapassar 100% no mercado de trabalho, o que é considerado um dos maiores desafios para a melhoria da educação brasileira.
Os responsáveis pelo ensino aos jovens do país têm de ser valorizados ao extremo, pois são eles que vão moldar os que no futuro conduzirão a nação. A questão é que a equiparação da remuneração dos professores e profissionais de outras áreas está longe de acontecer ; problemas tão ou mais graves persistem no tempo. Projeções indicam que os governos têm de investir pelo menos mais 43% na etapa escolar que vai do ensino infantil ao médio. O país, com os cofres vazios e uma economia que insiste em patinar, dificilmente disponibilizará recursos para tal.
No ano passado, o gasto médio com o pagamento dos educadores da educação básica com curso superior correspondia a 69,8% do salário dos profissionais de outros setores com a igual escolaridade. A média salarial de quem ensina foi de R$ 3.823 em 2018, ao passo que a dos trabalhadores brasileiros foi de R$ 5.477, de acordo com levantamento do Anuário Brasileiro da Educação. Se comparado com o salário dos profissionais das áreas de ciências exatas e saúde, a defasagem chega a 50%. Dados nacionais revelam que 79,9% dos docentes do ensino médio se formaram na universidade e 36,9% têm pós-graduação.
Na realidade, os números refletem a falta de estímulo oficial para o aprimoramento dos professores. Hoje, o educador busca cursos de mestrado mais como projeto de vida e satisfação pessoal, já que está fora de seu universo a expectativa de uma compensação financeira. Um docente, nos dias de hoje, tem de se desdobrar para conseguir cumprir seus compromissos do dia a dia. Muitos são obrigados a procurar outra atividade laboral para complementar a renda familiar, o que acaba interferindo na sua profissão de origem.
O que os especialistas não cansam de dizer é que o aprimoramento constante dos educadores é o espelho do que o país espera para seu futuro. São muitos os exemplos, no mundo, de que somente com a valorização dos professores haverá uma educação realmente de qualidade. Incontestável que ela passa pela temática salarial, mas também está intimamente ligada à questão cultural. Isso porque a sociedade tem de entender que um país só caminha no rumo certo quando compreende que professor qualificado é sinônimo de futuro.