postado em 04/07/2019 04:18
Altivez de Moro diante da falta de decoro
Quem perdeu tempo nessa terça-feira assistindo à audiência, que reuniu três comissões da Câmara dos Deputados para ouvir as explicações do ministro da Justiça, Sérgio Moro, sobre as mensagens interceptadas de modo clandestino por hackers, pôde constatar, mais uma vez, que a tão pretendida renovação das bancadas legislativas, como era o desejo de muitos brasileiros, para conferir maior qualidade e profundidade aos debates nacionais, ficou a meio caminho.
Quem também se der ao trabalho de conferir os discursos e debates que, de terça a quinta-feira, acontecem nas duas casas do Congresso Nacional e compará-los com aqueles que ocorriam há algumas décadas passadas, com certeza vai se decepcionar muito com o baixíssimo nível intelectual da maioria dos parlamentares que ocupam cadeiras nessa atual legislatura. Os vaticínios que asseveravam que a cada legislatura se desce um degrau na qualidade dos políticos, parecem que estão se cumprindo.
Os Anais da Casa, que sempre registraram essas reuniões e discussões dentro do Poder Legislativo e que podem ser facilmente acessados pelos eleitores, mostram, infelizmente, o que parece ser um recuo na qualidade e no nível de preparo dos atuais políticos, principalmente quando comparados com personagens como Paulo Brossard ou Ulisses Guimarães ou outros desse naipe que ocuparam essas mesmas cadeiras em um passado recente.
A falta de conhecimento dos problemas nacionais torna evidente que muitos que estão como representantes de seus nichos eleitorais, a distância quilométrica que sempre estiveram de bibliotecas, de livros e de outros exercícios do saber. Agem comandados e ordenados em bancadas e sob a tutela dos caciques de seus partidos, sem vontade própria, como entregues a uma rotina burocrática e modorrenta. Exercitam a oposição pela oposição, sem lastro de consciência ou leitura que ampare seus pontos de vista. Atacam seus adversários e não suas ideias, sempre com discursos rasos e primitivos.
São o que dizia Robert Musil, em Um Homem sem Qualidades: ;secretamente odeia, como à morte, tudo o que finge ser definitivo, os grandes ideias e leis, e sua pequena imitação petrificada, que é o caráter satisfeito. Ele não considera nada...;
Na obra O Homem medíocre, do escritor argentino José Ingenieros, é possível apreciar algumas análises que servem como uma luva para as novas bancadas: ;Atravessam o mundo cuidando da sua sombra, ignorando a sua personalidade. Nunca chegam a se individualizar; ignoram o prazer de exclamar ;eu sou;! em face dos demais. Não existem sozinhos. Sua amorfa estrutura os obriga a se apagar numa raça, num povo, num partido, numa seita, num bando: sempre a fingir que são outros;.
Os ataques rasteiros desferidos contra o ministro, dentro do parlamento, evidenciam, mais do que um ato de covardia de quem convida alguém para atacá-lo dentro da própria casa ou atira pelas costas, que a altivez de Moro incomoda aos que só sabem agir com falta de decoro.
A frase que foi pronunciada
;Deputado Felipe Francischini estava enganado quando comparou a Escolinha do Professor Raimundo com a CCJ da Câmara. Tudo bem que só 2 alunos tinham instrução nos dois ambientes, mas todos os alunos do programa de tevê eram educados, o que nem de longe aconteceu na casa que representa o povo brasileiro.;
Dona Dita, dona da própria casa.
Última hora
; Promulgada em sessão solene do Congresso Nacional, a EC n; 101/2019, que permite aos policiais militares e bombeiros exercerem outra função no magistério e na área da saúde.
Missão
; A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, vai ter o maior trabalho da pasta: desmistificar a imagem do Brasil no exterior. Organizações não Governamentais (ONGs) e sociedades, que não têm interesse no desenvolvimento da agricultura do Brasil, distorcem as notícias para convencer a comunidade europeia de que aqui não se cumprem acordos. Vai ser um trabalho hercúleo.
Com o Brasil
; Devin Mogler andando pelo Congresso Norte-americano é sinal de lobby pelo etanol. Ele é vice-presidente de Assuntos Governamentais da produtora e distribuidora de etanol Green Plains. Trabalhou com a senadora Joni Ernst e agora tenta melhorar a performance da empresa na bolsa de valores.
Labor
; Nada sobre-humano em cobrar ressarcimento dos presos pelos gastos na prisão. ;O ócio é a oficina do diabo;, repetia o filósofo de Mondubim. Na década de 1970, era comum comprar bolas de futebol, canetas, vassouras, rodos feitos por presos.
Só rindo
; Lendo a ;História de Brasília; abaixo escrita pelo meu pai, lembrei-me da Denise, uma aluna de piano que perguntou admirada sobre o nosso vizinho. É verdade que naquela casa mora o presidente Vargas Passarinho?
História de Brasília
O assessoramento do sr. João Goulart em matéria de imprensa não é dos melhores. Tanto assim que, na festa de aniversário dos seus filhos, muita gente o estava chamando de Jango Quadros. Falta divulgação do nome do homem.
(Publicado em 24/11/1961)