Opinião

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

postado em 10/07/2019 04:21

Efeitos perversos e duradouros da corrupção

Uma das múltiplas consequências nocivas da corrupção e, talvez, a mais deletéria, é que seus efeitos se prolongam por anos, causando mais estragos à medida que as Cortes não conseguem, em tempo hábil, pôr um ponto final nesses processos, devido não apenas à morosidade da Justiça e à possibilidade infinita de medidas recursais, mas, sobretudo, ao poder econômico que, geralmente, têm os indivíduos e as empresas envolvidos nos casos.

Essa é a realidade da maioria dos casos envolvendo grandes somas de dinheiro, normalmente, provenientes dos cofres públicos, ou seja: recursos dos cidadãos. Todos os brasileiros vêm acompanhando com atenção os enormes esforços feitos, por exemplo, pela força-tarefa do Ministério Público de Curitiba, onde estão os volumosos processos da Operação Lava-Jato, em processar e reaver essa fábula de dinheiro que foi roubada dos cofres da União e a luta contra um exército dos mais caros advogados do país, contra a oposição política e contra a velha ordem que sempre controlou o Brasil, como uma propriedade particular. É graças à luta desses pequenos e solitários Dom Quixotes, que os moinhos da corrupção vêm sendo postos abaixo, para o gáudio da população, que passou a enxergar nesses cavaleiros, talvez, a última esperança de reconstruir um país justo e igualitário.

Em Brasília, em decorrência direta da chamada maioridade política, empresários e políticos locais uniram esforços para copiar esse modelo criminoso que grassava pelo país, introduzindo, na capital o fenômeno da corrupção em larga escala. Exemplo material dessa sanha pode ser visualizado nas duas maiores obras erguidas na cidade. O Estádio Nacional Mané Garrincha e o Centro Administrativo (Centrad), em Taguatinga. O primeiro, orçado inicialmente em R$ 6,9 milhões, custaria aos contribuintes, quando concluso, R$ 1,9 bilhão, dos quais mais de R$ 600 milhões foram apontados como superfaturamento, pagamento de propina e outros desvios, sendo, então, o mais caro estádio da Copa de 2014 e um dos mais caros do planeta. De quebra, deixou uma despesa mensal de R$ 2,2 milhões mensais somente na conta de água, fora outras despesas como luz e conservação. Isso numa cidade sem tradição ou times de ponta no futebol. Foi preciso implorar para que os empresários assumissem o comando do elefante branco de concreto armado. O mesmo se sucedeu com o Centrad, que custou mais de R$ 1 bilhão dos contribuintes e cujo valor global da Parceria Público-Privada (PPP) foi estimado em R$ 6 bilhões, dividido em parcelas mensais de R$ 12,6 milhões ao longo de 22 anos.

Entregue em 2014, a obra mastodôntica ainda está vazia e necessita de diversos ajustamentos perante a Justiça para ser entregue ao GDF. Também nessa obra gigantesca, espalhada por 180 mil metros quadrados, o Ministério Público detectou o pagamento de propinas e outras vantagens indevidas a políticos, empresários e legendas partidárias locais tanto pela notória Odebrecht quanto pela Via Engenharia. Mesmo fechada, a obra produz custos mensais não informados ao contribuinte, o que deve perdurar, uma vez que ela está emaranhada em mais de 60 processos que correm na Justiça em diversas instâncias.

Obviamente, os responsáveis diretos por essas duas obras esperam, com a ajuda da banca milionária de advogados e com a morosidade da justiça que esses crimes prescrevam e que a conta seja paga em sua integralidade pelos brasilienses.



A frase que não foi pronunciada

;Mas por que está todo mundo chorando? Não temos um estádio em Brasília agora?;
Mané Garrincha, pueril, sem tomar conhecimento das planilhas contábeis




Reconhecimento
; Comemoração na Secretaria de Educação, sob a batuta de Rafael Parente, que está perto de ter, na nova escola da 912 Sul, uma referência no ensino inclusivo. Voltadas a surdos, as matrículas deverão atender pelo menos mil alunos, que terão a oportunidade de despontar graças aos estímulos no esporte e na interação social.

Lá e cá
; Elogiando Jô Soares, Alex, que era o garçom do programa, está no Chile ganhando a vida como guia turístico. Morando numa habitação bastante modesta, agradece ao ex-chefe por ter mostrado um outro lado da vida. Por sua vez, Jô tem enfrentado problemas de saúde.

Novidade
; As comissões do Senador aprovaram ontem integrantes para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM). São eles: Sílvio Roberto Oliveira de Amorim Júnior, indicado pela Procuradoria-Geral da República; Fernanda Marinela de Sousa Santos, indicada pela OAB; e Sandra Krieger Gonçalves, também indicada pela OAB. Foi aprovado também o nome de Josué Alfredo Pellegrini para o cargo de diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), que deverá ser submetida ao crivo do plenário.




História de Brasília
O leite nos supermercados está custando 30 cruzeiros. Nos mercadinhos da W-4 estão cobrando 45. É roubo. (Publicado em 24/11/1961)




Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação