postado em 14/07/2019 04:26
;Ano meiou, ano findou;, já dizia minha avó. Pessoas de fé, como eu, sabem que há exatos 12 dias, em 2 de julho, atingimos 183 dias do ano da graça de 2019, quando reconhecemos Jesus como salvador. Pessoas normais, com fé ou não, sabem que já começamos então uma contagem regressiva alucinada para o fim de ano, para as festas, para um eterno estica-e-puxa entre expectativa de tempos melhores e desilusão. Pessoas minimamente informadas estão neste momento se perguntando: ;Afinal, o que aconteceu nesse semestre? Para onde está indo o Brasil? Caminhamos em alguma direção? Há salvação?;.
Há um fato: acabou a lua de mel. Há seis meses tomaram posse os políticos que saíram vencedores na eleição mais difícil e surpreendente da nossa história democrática. Desde então, seis meses de marcha lenta. Um tempo em que experimentamos uma política de memes, de piadas prontas, de atos inverossímeis. Não sei você, mas eu sou a própria Alice, que caiu na toca do coelho e descobriu um mundo fantástico, povoado por criaturas peculiares. Só encontro referência do Brasil de hoje na ficção nonsense, onde nada parece ter relação com a realidade. Mas o pior é que tem.
Olho para os tais poderes constituídos, a tal tríade democrática, as tais instituições que funcionam e vejo dublês por toda parte, ensaiando um espetáculo de horrores. Ainda bem que há exceções ; atores de verdade na cena política, que, de vez em quando, nos brindam com palavras e reflexões lúcidas. De vez em quando, é certo, algo real acontece. Vide o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia e, mais recentemente, a reforma da Previdência.
No apagar das luzes do período de recesso do Congresso, aprovamos em parte uma reforma, que foi se desidratando e aceitando privilégios. A sensação que fica é: ;Mudou muita coisa, mas nada mudou;. São interesses corporativos que acabam sobressaindo sobre o real interesse público. Não é o que sempre acontece? Sim, economizaremos bilhões, às custas do suor e do trabalho daqueles a quem sempre é exigido o maior esforço.
Nossos políticos não são nossos políticos; são os onipotentes detentores do direito de escolher entre quem pode e quem não pode ter uma vida mais digna. São eles que dizem, recolhidos em seus guetos particulares de eleitores, quem é mais e quem é menos brasileiro; quem deve viver melhor, usufruindo de uma condição privilegiada, que poucos podem ter. Só gosta de privilégio quem tem. Então, que ao menos aceitem a crítica e durmam sem reclamar de uma pseudoperserguição. Vale para os políticos; vale para os privilegiados.
Daqui a pouco, começam as eleições municipais. A campanha chega com a liberação das emendas parlamentares para fazer a média com os redutos eleitorais. Pouco a pouco, os políticos saem dos cantinhos onde fazem os conchavos para pedir votos. Sairemos da toca do coelho em busca do mundo real e cairemos de novo na fantasia das promessas. Até quando? O fim do ano está logo ali. Vamos nos abraçar, festejar e tentar sonhar com dias melhores. Sim, tentar, porque sonhar, neste país politicamente tão radicalizado, tornou-se um desafio até para os mortais mais sensatos e otimistas que conheço.