Opinião

Crítica é para ser ouvida

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 16/07/2019 04:24
Um dito popular sempre chamou a minha atenção e guiou minhas ações: à mulher de César não basta ser honesta, tem também de parecê-lo. Quando se estende a bandeira da honestidade e da luta contra a corrupção de forma agressiva e se faz disso uma história de vida, as consequências são ainda mais sérias. E pelos discursos do presidente Jair Bolsonaro, ele vem se perdendo entre teoria e prática. Para quem é pró, no afã de colocar o país nos eixos. Para quem é contra, levando além do limite a vingança à esquerda. Para os realistas, perigosamente.

O aceno à possibilidade de nomear o filho Eduardo como embaixador brasileiro nos Estados Unidos ; se o Senado deixar ; é uma amostra clara desse tipo de atitude. Ainda mais depois que o presidente afirmou que se a indicação causou tantas críticas é porque Eduardo talvez seja a pessoa ;adequada; para o cargo. O presidente fez a observação em uma solenidade na Câmara. Como Bolsonaro faz muito esse tipo de ;brincadeira;, talvez não seja o caso de levarmos a sério. Mas não considerar críticas para uma decisão tão importante demonstra uma cegueira na forma de conduzir um país. Noah Chomsky, em seu livro Estados fracassados (que, na verdade, fala sobre as ações dos EUA no exterior e no próprio país), dá um conselho valioso para qualquer governante:

;Dentre os mais elementares dos truísmos morais está o princípio da universalidade: devemos aplicar a nós mesmos critérios iguais, ou ainda mais rígidos, aos que aplicamos aos outros. É bastante significativo que na cultura intelectual do Ocidente este princípio seja tantas vezes ignorado ou, quando mencionado, sentido como uma afronta. Uma atitude vergonhosa, particularmente para quem ostenta a sua piedade cristã e, portanto, deve ter pelo menos ouvido falar de como os evangelhos definem o hipócrita.;

Bolsonaro deveria ficar mais atento às críticas, saber diferenciar quem analisa somente para derrubar e quem pensa no futuro do país e ser humilde para aceitar os erros. Indicar o filho para uma embaixada é só um deles. E, por menor que seja, insistir é mais um passo para desconstruir as próprias promessas.

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