Opinião

O que nos conta a história

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 20/07/2019 04:19
A Organização de Estados Americanos (OEA) se mobiliza, com sua Carta Democrática, contra Daniel Ortega, da Nicarágua, guerrilheiro que se tornou ditador, com prática diária de assassinatos. O que nos conta a história? A OEA tem sua origem mais remota na União Internacional das Repúblicas Americanas, criada em 1890, por iniciativa dos Estados Unidos. O continente precisa ter ;voz autorizada diante de uma Europa colonialista e reincidente;, argumentavam os americanos.

Estavam interessados em conter capitais da Inglaterra, que ocupavam os vazios deixados pelos espanhóis. Depois da batalha de Ayacucho, no Peru, em 1824, a última contra a Espanha e da qual participaram tropas inglesas, George Cunning, o esperto chanceler imperial, estranhamente homenageado com nome de rua no Rio, disse ;a América Latina é livre e, se Deus quiser, será nossa;.

Os Estados Unidos, com ideias diferentes, lançaram um ano antes a Doutrina Monroe dispostos a preservar o continente de ;futuras colonizações europeias; ou, como falavam, garantir ;a América para os americanos;, enunciados que se tornaram claros com a invasão americana do México em 1846, e o rosário de intervenções no século passado. A entidade de 1890 se transformou em União Panamericana e cumpriu à risca o papel de dar cobertura à consolidação da hegemonia dos Estados Unidos.

Só nos anos 1930, sofreu uma mudança importante. Em 1936, diante da guerra que se aproximava e da necessidade de ter aliados seguros na retaguarda, os Estados Unidos aceitaram formalmente o princípio da não intervenção. Nos anos 1920, mais da metade dos diplomatas americanos serviam na América Central, onde se concentravam, com o restante da América Latina, os interesses de uma potência na época com ambições regionais.

Embora os Estados Unidos tenham saído da Segunda Guerra como potência global, o Pentágono recomendou que a Doutrina Monroe continuasse vigente. Era a luta contra um novo império, a ex-União Soviética, ou um novo tipo de colonialismo, a expansão comunista. A OEA, versão Guerra Fria da União Panamericana, surgiu em 1948 sob o signo do anticomunismo. Só foi ativada em 1954, ano em que o governo constitucional da Guatemala, acusado de comunista, caiu vítima de operação armada e financiada pela CIA, fato admitido por Eisenhower em suas memórias.

O caso guatemalteco reforçou o arsenal ideológico de 1948. Foi incorporado à Carta da OEA o princípio de que o continente entraria em alerta toda vez que ;o domínio ou o controle de instituições políticas de qualquer Estado americano pelo comunismo internacional; pusesse em risco a paz nas Américas. Expulsão de Cuba, desembarque de fuzileiros na República Dominicana etc. Com o fim da Guerra Fria, começou-se a falar em ;defesa da democracia;.

Golpes no Chile, Argentina, Brasil, mas em 1991, ano de dissolução da União Soviética, saudou-se o fato de que, pela primeira vez na história da OEA, não havia em seu plenário ninguém que não fosse de governo eleito. A OEA entrou em compasso de dissolução, mas eis que surge a Venezuela rica de petróleo e com seu pequeno ditador.

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