postado em 24/07/2019 04:06
Em 2007, a produtora cultural Jaqueline Fernandes e a videomaker Chaia Dechen criaram, em Brasília, o Festival Latinidades. O evento surgiu de algumas inquietações das duas, entre elas, a falta de referência de produtoras culturais negras na cena e a ausência de espaço para difusão da produção cultural, artística e intelectual das mulheres negras. Desse incômodo, a dupla chegou ao conceito do Latinidades: um festival multilinguagens que, com atividades que vão desde a música até a pesquisa acadêmica, dá visibilidade às mulheres negras.
Tradicionalmente, desde a criação, o evento ocupava a programação candanga em julho e reunia, no centro do Brasil, ativistas, intelectuais e artistas locais, nacionais e internacionais para celebrar o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha ; comemorado em 25 de julho desde 1992, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data ; promovendo diálogos e intercâmbios políticos, sociais e culturais voltados para o público feminino negro.
Nesses 12 anos, o evento trouxe à capital federal nomes como Angela Davis (ativista), Elza Soares (cantora), Patricia Hill Collins (pesquisadora), Jurema Werneck (pesquisadora) e Conceição Evaristo (escritora). Na edição deste ano, a programação tem a fotógrafa norte-americana Deborah Willis, especialista em fotografias afro (que teve entrevista publicada ontem no caderno Diversão & Arte); Ochy Curiel, ativista dominicana que esteve no 1; Encontro de Mulheres Negras Latinas de Caribenhas, que deu origem ao dia que inspirou o Latinidades (e conta essa história hoje também no caderno); e tantos outros grandes nomes.
Porém, pela primeira vez, o festival não dividirá esse conhecimento com o público brasiliense. Devido a problemas financeiros, o Latinidades teve que deixar a cidade em que nasceu para encontrar morada em São Paulo. A decisão de deixar a capital não foi fácil. A produção até havia anunciado que, após dificuldades em 2018, quando fez uma campanha de financiamento coletivo, tornaria o evento bienal e até anunciou uma edição em julho em Brasília.
Promessa que não pôde ser cumprida. O Latinidades contava com a verba do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), que foi inviabilizada com o anúncio do corte de dois editais no início deste ano pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF. Para não passar em branco, a produção buscou outros meios até que pôde viabilizar o festival em São Paulo com apoio do Centro Cultural São Paulo e da Casa Natura, onde começou na última terça-feira e segue até sábado. Ganha São Paulo, mas perde Brasília.