Opinião

Transporte responsável

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 24/07/2019 04:06
A possibilidade de nova greve dos caminhoneiros voltou a assombrar o país no início da semana, quando um grupo desses profissionais resolveu se mobilizar contra a tabela de frete mínimo. Ainda está na memória de todos os brasileiros o sofrimento imposto pela paralisação do transporte rodoviário, em maio do ano passado, ocasião em que o Brasil praticamente parou. Alimentos se deterioraram nos caminhões frigoríficos estacionados nos acostamentos, medicamentos se perderam, produtores rurais e indústrias ficaram sem os insumos necessários à produção, e a economia experimentou um mês de verdadeiro caos.

Desta vez, o governo agiu imediatamente, e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) decidiu, por unanimidade, suspender o frete mínimo e abriu um canal de negociação com a categoria, que tem sob seu controle o transporte rodoviário de praticamente toda a carga do país. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, prontamente, veio a público para garantir que o diálogo segue sendo o principal caminho para a busca do consenso no setor do transporte de cargas.

A suspensão da tabela se deu depois que se espalharam notícias, por intermédio das redes sociais, de que movimentos paredistas de parcela significativa da categoria estavam prestes a eclodir devido à insatisfação com o frete mínimo. Eles chegaram a fazer mobilizações em Minas Gerais, Pernambuco e Ceará, quando motoristas foram parados para aderir ao movimento. Mas, ao contrário do ocorrido em 2018, não houve violência, as pistas de rolamento não foram interditadas e os carros de passeio transitaram normalmente, o que demonstra a disposição da categoria em conduzir as negociações de forma responsável. Sabem que a população não suportaria a repetição dos transtornos causados pelo desabastecimento generalizado na greve passada.

Na avaliação da diretoria da ANTT, os termos da resolução que instituiu a nova tabela de frete mínimo causaram dúvidas quanto à definição do preço do frete e desconsideraram o valor do pedágio na hora de dar preço às viagens. Diante do impasse com a categoria, voltou a valer a norma anterior, de maio de 2018, época do encerramento da paralisação que travou o transporte no país.

Na nova rodada de negociação, agendada para hoje, representantes dos caminhoneiros devem voltar a reclamar do valor mínimo definido pela agência reguladora, com o grupo de pesquisa e extensão em logística agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo. A ANTT alega que a nova tabela (a que foi suspensa) é resultado de audiência pública com a participação de transportadores autônomos, empresas e cooperativas de transporte, contratantes de frete, embarcadores e diversos outros setores da sociedade.

Hoje, há muita queixa entre os caminhoneiros de que o setor está parado e de que a quebradeira é geral. Motivo maior para se descartar uma greve no momento, quando a economia brasileira continua patinando. Uma nova paralisação, na atual conjuntura, causaria dano irreparável à nação, sobretudo quando a safra histórica de mais de 240 milhões de toneladas de grãos está sendo colhida e grande parte dessa produção se destina a portos distantes.

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