postado em 01/08/2019 04:06
;As nações não têm amigos. As nações têm interesses.; Atribuída a Charles de Gaulle, a frase tem a paternidade disputada por outros líderes. Entre eles, Churchill, Roosevelt, John Foster Dulles. A razão de tantas cabeças coroadas e mentes brilhantes assinarem embaixo da sentença se deve a dois fatos. Um deles: com clareza, concretude e concisão, ela diz a verdade. Não a escamoteia com verborragias que soam bonito, mas escondem o essencial. O outro: a aproximação e, claro, os acordos se firmam de olho nos propósitos nacionais, não neste ou naquele mandatário de plantão.
Donald Trump, nesta semana, teceu elogios ao presidente Jair Bolsonaro. Enalteceu o desempenho e a semelhança de ambos. Disse apreciar o fato de o mandatário brasileiro ser chamado de ;Trump dos Trópicos;. E, no mesmo contexto, falou no propósito de Brasil e Estados Unidos assinarem acordo de livre-comércio. As palavras encontraram eco em Brasília. Marcos Troyjo, o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, afirmou que o objetivo é firmar pacto ambicioso e abrangente, porque o fluxo de transações entre os dois países está aquém do que deveria e poderia.
Não é de hoje que a parceria entra na agenda de Washington, Brasília e demais membros do Mercosul. Mas, há cerca de 15 anos, Brasil e Argentina se aliaram para impedir os avanços do projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Na oportunidade, só mantiveram negociações com uma economia desenvolvida, a União Europeia. O acordo foi firmado há pouco, depois de 20 anos de idas e vindas e superação de entraves apresentados por ambos os lados.
A opção foi pelo terceiro-mundismo. Os entendimentos Sul-Sul mereceram a atenção da diplomacia do bloco, que se concentrou em mercados modestos e atrasados. Resultado: ficamos para trás, sem competidores de peso, aptos a desafiar a indústria, que, para sobreviver, só teria uma saída ; investir em inovação e impor nova realidade para o país: exigência de mão de obra sofisticada, que implica melhor qualidade da educação e mudanças radicais nos currículos das universidades.
Perspectivas alvissareiras se desenham no horizonte. Depois do acordo Mercosul-União Europeia, que contará com 750 milhões de consumidores, anuncia-se o pacto com os Estados Unidos. Por ter economia complementar à nossa, Washington promete um comércio diversificado. Diferentemente da China, grande importadora de matéria-prima (minérios e produtos agrícolas), a potência americana consome manufaturados, que agregam valor aos produtos primários, estimulam a indústria e contratam trabalhadores qualificados.
Não se deve ao acaso o fato de as economias mais pujantes do mundo terem um denominador comum. China, Japão, Coreia, México exportam ; e muito ; para os Estados Unidos. O Mercosul, ao que parece, quer retomar o caminho da prosperidade. É importante, agora, partir das palavras à ação. Competência e diplomacia devem sentar-se à mesa e negociar o acordo. É o caminho para a integração internacional.