postado em 01/08/2019 04:06
Em 1979, o Brasil realizava o primeiro transplante de medula óssea (TMO) bem-sucedido na Universidade Federal do Paraná pela iniciativa pioneira dos professores Ricardo Pasquini e Eurípides Ferreira. Era o princípio de uma história que mudaria o desfecho da vida de dezenas de milhares de pessoas em todo o país. Doenças onco-hematológicas, hematológicas ; como linfomas, leucemias, mieloma múltiplo; imunodeficiências congênitas, genéticas, adquiridas ou hereditárias, bem como as doenças metabólicas, autoimunes. Alguns tumores sólidos, que antes pareciam não ter alternativa terapêutica, passavam a poder contar com o procedimento, como meio de proporcionar qualidade de vida, aumento de sobrevida, estabilização ou remissão da enfermidade e, até, cura.
O TMO tem avançado. Há alguns anos passamos a, além de contar na nossa prática clínica com as modalidades autólogo (quando o doador é o próprio paciente) e alogênico (o doador pode ser aparentado ou não), pudemos incorporar nova e promissora tecnologia, que consideramos a vedete do TMO da atualidade. Trata-se do transplante haploidêntico, procedimento realizado com doadores familiares parcialmente compatíveis, geralmente com pelo menos 50% de compatibilidade. Essa ;tecnologia; vem sendo realizada no país desde 2017. Graças a ela, praticamente 100% dos pacientes são elegíveis ao TMO ; verdadeira revolução!
Outro ponto que considero um marco é a perspectiva de que idosos sejam elegíveis ao TMO. Há poucos anos a realidade era outra e, devido à comorbidades pré-existentes versus toxicidade do transplante e outros eventos adversos, eles não eram submetidos ao TMO. Agora, graças ao surgimento de metodologias de preparo com quimioterapias mais leves dos pacientes, de avaliação geriátrica e de comorbidades, foi possível estender a idade de tratamento para acima dos 70 anos. Uma conquista e tanto, sobretudo se observarmos que, dentro de 10 anos, em 2030, teremos uma população composta em sua maioria por idosos, conforme levantamentos do IBGE. Para essa parcela da população que envelhece a passos largos, poder contar com a possibilidade de fazer um TMO se necessário, é uma vitória.
Há ainda a terapia celular com células-tronco modificadas geneticamente ou não para tratamento de doenças como leucemias, linfomas ou mieloma, que tem apresentado potencial para vir a substituir ou complementar, em alguns casos, o TMO tradicional. Recentemente, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) anunciou uma estratégia para aperfeiçoar o mecanismo de alocação de leitos ; iniciativa crucial para sanar antiga demanda de leitos. A partir de agora será possível reverter essa situação que tanto angustiou a todos ; nós, Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e pacientes.
Nesta semana, no dia 30 de julho, formalizamos parceria com uma instituição internacional, o Center for International Blood and Marrow Transplant Research, que nos permitirá formar um Registro Brasileiro de TMO do Brasil. A partir desse projeto, será possível proporcionar uma visão do cenário do TMO para que o transplante seja implementado de maneira ainda mais efetiva no futuro.
E, além de termos evoluído em ciência e prática, temos investido na expansão. Hoje contamos com 87 centros de TMO distribuídos por quase todo o Brasil. São mais de 3 mil pacientes que realizam o procedimento por ano, entre os serviços públicos e privados: mais de 1.800 autólogos, mais de 1.200 alogênicos e, aproximadamente, 170 haploidênticos. Isso sem falar que o nossos país possui o terceiro maior registro de doadores do mundo, com mais de 4 milhões de pessoas cadastradas.
Neste ano, poderemos celebrar os avanços durante a 23; edição de nosso congresso, em Brasília, de 31 de julho a 3 de agosto, evento educacional e científico pujante, que reúne médicos e outros profissionais da saúde que constituem a equipe multiprofissional.Por isso, quando me perguntam se vale a pena lutar pelo fortalecimento do TMO do país, procuro me recordar do caminho que percorremos nestes 40 anos, que trouxe com ele não apenas números e indicadores, mas transformou a vida de pessoas ; crianças, adultos e idosos ; para sempre.
Cada TMO traz consigo uma história e nós levamos um pedaço de cada uma delas conosco. Se você tem alguma experiência e deseja compartilhar, finalizo este artigo deixando o convite para que venha se juntar a nós no congresso, no nosso 1; Dia da Família, atividade que ocorrerá em 3 de agosto, a partir das 14h, que reunirá além de médicos e profissionais do TMO, pacientes e familiares. Inscrevam-se no www.sbtmo2019.com.br. Esperamos por vocês!