Opinião

Em nome do jornalismo

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 06/08/2019 04:05
Que tarefa inglória é essa de ser crítico, expor contradições, perguntar, questionar, duvidar. E errar. Errar todos os dias, reconhecer a falha na frente de muita gente e seguir em frente. Esse é o jornalismo, esse é o ofício do jornalista. E por mais que poderosos queiram derrubar nosso trabalho, ele vai existir. Como foi há mil anos e será daqui a um milênio. Com certeza, de forma diferente. Seja lido em voz alta em uma praça, no rádio, no jornal impresso ou na internet, não há abaixo-assinado que vá fazer acabar a tarefa do ;historiador; do dia a dia.

Claro, temos que tomar cuidado todos os dias. Os perigos são diversos: da ideologia à síndrome de Clark Kent, que nos tenta a ser super-homens e mulheres. E não há nada pior do que a cegueira que nos pega quando deixamos a ideologia, por exemplo, guiar a rotina jornalística. Porque não estamos aqui para defender direita ou esquerda, mas para lutar contra injustiças, de qualquer lado ela venha. E aí aparece o outro problema: o de ser mártir, quando não é essa nossa função.

Essas são questões éticas e morais que nos perseguem diariamente. O objetivo principal, porém, é fazer com que os nossos leitores entendam assuntos, se sintam representados diante de autoridades, que as perguntas cheguem aos questionados, que tenham a inspiração de boas histórias, de bons exemplos. É bom ler, ver e ouvir aquela história de superação que nos deixa mais fortes, assim como precisamos de alguém que pergunte a Luiz Felipe Scolari o que aconteceu depois daqueles 7 x 1.

É uma tarefa inglória. Capaz de mexer com a cabeça das pessoas. Que o diga o veterano e polêmico repórter Seymour Hersh no livro Repórter: uma memória, sobre a reportagem sobre a batalha de My Lai, no Vietnã: ;Todos eles pegaram um helicóptero às quatro da manhã ... prontos para matar ou serem mortos em nome da América;. Sua matéria foi contestada porque, segundo diziam, os Estados Unidos não deveriam ser questionados em nome da liberdade. Mas não adianta questionar. Se for preciso, a gente escreve em um muro. Mas nosso trabalho não vai acabar.

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