postado em 11/08/2019 04:05
Os dados do mercado, que servem de base para o monitoramento da atividade econômica pelos dirigentes do Banco Central, são muito claros tanto para o governo quanto para a sociedade. As oscilações no valor dos ativos e no câmbio levam à tomada de medidas pelos responsáveis pela condução das políticas econômica e monetária. Não há autoridade superior para avaliar os números e definir o que pode ser anunciado. A transparência é inquestionável, o que confere credibilidade, mesmo que os números suscitem leituras e avaliações distintas.
O patrimônio natural do país é um grande ativo. Se mal gerido, os prejuízos poderão ser tão grandes quanto os que ocorreriam se a equipe econômica de plantão ignorasse o que ocorre no mercado ou ficasse de braços cruzados ante a desvalorização de moeda nacional. Seria o mesmo que quebrar o leme e deixar a embarcação à deriva.
Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), captados por satélites, revelaram que em julho último a área desmatada na floresta amazônica foi de 2.254,8 km; contra 596,6 km; em igual mês do ano passado, ou seja, um aumento de 278%. Em 12 meses ; entre agosto de 2018 e julho último ; a área total de desflorestamento chegou a 6.833 km;, ou 33% a mais do que ano anterior.
A divulgação dos dados pelo site do Inpe irritou o presidente Jair Bolsonaro. Em vez de usar a informação para eventuais correções da política ambiental, ele desqualificou o instituto, uma instituição reconhecida internacionalmente que reúne especialistas altamente qualificados. As declarações do presidente foram rebatidas pelo diretor Ricardo Galvão, físico e engenheiro premiado. Dia 7 último, o especialista foi exonerado. O embate repercutiu negativamente na imprensa nacional e internacional.
Para o presidente, dados como aumento do desmatamento são negativos e ferem a imagem do país. Ele reafirma o seu interesse em expandir as fronteiras agrícolas e explorar os minérios em terras indígenas situadas na Amazônia. A repercussão foi ainda pior. A expectativa era de que, ante o aumento da derrubada de florestas, o governo anunciasse medidas para conter a perda do patrimônio natural, com enorme potencialidade e ainda não estudado pela ciência. A preservação da floresta em pé é entendida pelos 195 países signatários do Acordo de Paris, inclusive o Brasil, como essencial entre as medidas para conter a emissão de gases de efeito estufa. Não fosse essa riqueza, dificilmente o Brasil teria o protagonismo que conquistou na construção do acordo.
A partir de agora, os dados do Inpe só serão divulgados após passarem pelo crivo do presidente Bolsonaro. A decisão embaça a credibilidade das informações que venham a ser divulgadas. Coloca em xeque política ambiental brasileira, hoje focada no perímetro urbano. Trata-se de providência que trafega na contramão dos acordos internacionais assinados pelo Brasil em relação ao meio ambiente. Não impede a degradação do patrimônio natural, ameaça real que deve ser combatida pelo poder público.
A mudança chega embalada em propostas que ameaçam e reforçam o preconceito em relação aos povos originários e tradicionais da floresta, o que depõe contra o país, que se destaca pela pluralidade étnica e cultural. Soma para desgastar a imagem do Brasil no exterior, o que pode significar perdas financeiras importantes para a economia nacional, quando grande número de empresas e investidores buscam dar um rótulo verde aos produtos e empreendimentos. A construção de políticas públicas se faz com dados técnicos, capazes de orientar um desenvolvimento sustentável da nação, considerando os valores compatíveis com o século 21.