Opinião

Mais da metade do mercado de cigarros do país é ilegal

postado em 12/08/2019 04:05




O Ibope Inteligência realiza anualmente, desde 2014, um estudo em âmbito nacional para estimar a participação de mercado de cigarros ilícitos no Brasil. Os números mostram que hoje 57% de tudo que é consumido no país é ilegal. Esse resultado é oriundo de pesquisa quantitativa realizada com a população brasileira de 18 anos a 64 anos, residente em áreas urbanas de municípios com 20 mil habitantes ou mais. Essa amostra representa 76% dos brasileiros nessa faixa etária.

A metodologia utilizada é reconhecida internacionalmente, sendo realizada por meio de entrevistas com fumantes e recolhimento da embalagem dos cigarros. Os resultados são estimados com base nas informações de consumo dos fumantes. As entrevistas são realizadas pessoalmente, uma vez que apenas esse modo de coleta consegue representar a população brasileira como um todo. Demais métodos, tais como aqueles realizados por telefone fixo ou internet, não alcançam esse objetivo, pois a posse de telefonia fixa ou acesso à internet não é universal no Brasil.

A amostra utilizada na pesquisa representa todos os segmentos demográficos e geográficos do país, e, dessa forma, a seleção amostral segue três estágios: Primeiro estágio: seleção sistemática dos municípios pelo método PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho), considerando a parcela da população e das cidades mencionadas. Segundo estágio: em cada município, são selecionados setores censitários, também pelo método PPT. O setor censitário é formado por um conjunto de quarteirões definido no momento do recenseamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele também é formado por uma área territorial contínua que contém um determinado número de domicílios.

Terceiro estágio: dentro dos setores censitários, selecionados no estágio anterior, os fumantes de cigarros industrializados são selecionados por meio de cotas de gênero, faixa etária, classe socioeconômica e ocupação. Em cada setor censitário, são entrevistados até cinco fumantes de cigarros industrializados, com idade entre 18 anos e sete meses e 64 anos, consumidores de sete ou mais cigarros industrializados por semana, de todas as classes sociais.

Assim, a amostra final de fumantes de cigarros industrializados totalizou, em 2019, 8.428 entrevistas, em mais de 200 municípios distribuídos por todas as regiões do país, incluindo todas as capitais. A amostra realizada é bastante robusta, garantindo representatividade nacional em municípios de diferentes tamanhos de população e diferentes perfis sociodemográficos, permitindo análises segmentadas dos resultados. Posteriormente, com o objetivo de representar os fumantes brasileiros, os dados são ponderados com base na população fumante de cada estrato geográfico. Essa informação é levantada em um segundo estudo, também realizado pelo Ibope Inteligência, com mais de 50 mil entrevistas com a população adulta para estimar a incidência de fumantes, assim como o perfil dos mesmos.

Apenas para efeito de comparação, a pesquisa eleitoral nacional realizada às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais que apontou corretamente a vitória do presidente Jair Bolsonaro, com uma estimativa de 54% dos votos válidos, quando o resultado oficial foi de 55%, era de 3.010 entrevistas domiciliares. A amostra utilizada para estimar o mercado ilícito de cigarros é 2,8 vezes maior do que as amostras eleitorais.

Além disso, a pesquisa para estimar o mercado de cigarros é factual, uma vez que, durante a entrevista, é feito o recolhimento da embalagem do cigarro que o entrevistado consome. O objetivo é levantar o que de fato o entrevistado está consumindo e não o que foi declarado por ele na entrevista. Os maços são então catalogados e passam por uma dupla avaliação e checagem por especialistas, e são classificados como legais, falsificados e contrabandeados. Dessa forma, é possível garantir que o resultado do estudo reflita de fato a classificação correta do cigarro.

Adicionalmente, é possível observar, na pesquisa, marcas fabricadas por empresas nacionais, compradas na sua maioria a preços abaixo do mínimo estabelecido pela legislação brasileira. Essas são consideradas ilegais, além das falsificadas e contrabandeadas. O estudo do Ibope Inteligência mostra que, ao longo dos últimos anos, há uma tendência de crescimento do mercado ilegal de cigarros industrializados no Brasil, passando de 40%, em 2014, para 57% em 2019.

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