postado em 12/08/2019 04:05
Não conheço Eduardo, nem conheço o Jair. Não sou filiado a nenhum partido e acompanhei por muitos anos governos e governantes em Brasília. Opiniões isentas são as formuladas sem o peso da paixão ou do interesse de qualquer natureza. Apenas comentam o que está sobre a mesa. Tenho achado interessante toda a celeuma criada em razão da indicação do filho do presidente para a Embaixada em Washington. Gostaria de opinar, sem ter sido convidado, mas acho que está faltando bom senso.
Há anos visitei, na nossa embaixada, em Washington, o meu amigo embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, um dos ícones da diplomacia brasileira no exterior durante toda sua belíssima história no Itamaraty. Sua esposa, a impecável embaixatriz Lúcia Flecha de Lima, era minuciosa em ter um ambiente refinado, superbem frequentado. Marcou época na capital dos EUA ao receber e hospedar a amiga Lady Di, a princesa inglesa admirada pelo mundo, em visita particular, enchendo a Casa Branca de inveja.
Nessa visita, o embaixador me disse ; e nunca esqueci ; que ser embaixador em Washington era uma honra, uma consagração de qualquer carreira diplomática. Mas, se o nome não for de prestígio junto à Casa Branca, é ;enterro de luxo;. A função será circunscrita a frequentar coquetéis e entediantes seminários sobre milhares de temas com pouquíssima contribuição significativa ao futuro do Brasil.
Acompanhei a designação de vários embaixadores não diplomatas e nunca voz alguma se levantou para questionar quem o presidente queria representando o Brasil onde quer que fosse. Portugal sempre foi destino óbvio porque ali se fala português, idioma familiar, e os vinhos são de excelente qualidade, além do carinho acolhedor da gente lusitana.
Qualquer cidadão de mínimo bom senso pensaria 10 vezes antes de querer ser embaixador nos Estados Unidos. É muita janela se a sua visibilidade não for adequada. Um mínimo erro e o mundo te cobrará a inepta performance diplomática. As críticas a Eduardo Bolsonaro são políticas e daí tanto rebuliço.
Não vejo o menor desconforto em ter o filho do presidente na sede da embaixada em Washington. Muito pelo contrário: seus erros serão superexplorados e seus acertos serão mais potencializados, pois, queiram ou não, ele será um embaixador com algumas portas abertas na Casa Branca, por motivos até mesmo anteriores à condição de presidente do pai.
Eu daria a ele essa chance e dele cobraria uma performance diferenciada. Evidentemente que um profissional de fora da carreira não terá a compreensão total dos atos do ofício, mas pode ser assistido com os melhores quadros técnicos específicos que a embaixada no maior país do mundo merece. Vários embaixadores dos Estados Unidos no Brasil foram amigos e companheiros de campanha dos presidentes e fizeram trabalhos maravilhosos de articulação e representação no Brasil.
A sede diplomática onde marcaram presença pela competência e fidalguia nomes como Walter Moreira Salles, Roberto Campos, Antônio Azeredo da Silveira, Marcílio Marques Moreira, Rubens Ricupero, Paulo Tarso Flecha de Lima, Rubens Barbosa, Roberto Abdenur aguarda sempre um grande nome. Mas imagino que Eduardo Bolsonaro vá com gana de compensar em ações pró-Brasil os anos que não pôde cursar no Instituto Rio Branco.
Seu nome como abre-alas dá a ele condições para chegar e criar verdadeira ação diplomática que coloque o Brasil em assentos nas primeiras fileiras do protocolo americano. As inúmeras demonstrações de amizade oferecidas ao deputado pelo presidente Donald Trump e por membros de sua família dão um crédito de confiança para que a função possa ser cumprida de maneira diferenciada.
Os diplomatas do Itamaraty certamente gostariam de ver no posto alguém da carreira, mas hão de convir que é uma aposta do presidente do Brasil de muita responsabilidade e que poderá ser alterada sem nenhuma dificuldade. Quem viver verá e ... julgará.