postado em 12/08/2019 04:05
O que a médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, o ex-presidente Juscelino Kubistchek de Oliveira e o astronauta Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, tinham em comum? Eles e outros milhares de realizadores e líderes que fizeram e fazem a diferença para as suas comunidades e países, como a atriz Marieta Severo, o Papa João Paulo II, o explorador Jacques Cousteau, a cantora Taylor Swift e o aventureiro, escritor e apresentador de TV Bear Grylls, foram um dia membros do Movimento Escoteiro, um admirável fenômeno educacional, com 50 milhões de jovens reunidos em 170 Organizações Escoteiras ao redor do globo.
A força do Movimento Escoteiro ficou demonstrada no seu último encontro global ; denominado Jamboree Mundial, organizado em West Virginia, nos Estados Unidos, entre 22 de julho e 2 de agosto deste ano. Participaram mais de 40 mil jovens, entre 14 e 17 anos de idade, e 9 mil adultos voluntários, de 159 países, movidos pelo desejo de promover a paz e a harmonia entre as nações e de desenvolver habilidades de liderança e de convívio. Descobrir um Novo Mundo foi o tema escolhido dessa 24; edição do Jamboree Escoteiro Mundial para inspirar os jovens a se unirem na busca de soluções para os grandes desafios globais, desde a promoção da sustentabilidade até a luta pela superação da pobreza, da fome e dos conflitos.
Certamente Robert Baden-Powell, o tenente-general do exército britânico, criador do Movimento Escoteiro em 1907, jamais imaginou que seu sonho se materializaria em tais proporções. B-P, como é carinhosamente conhecido, foi um militar múltiplas vezes condecorado, um expert em táticas de sobrevivência em ambientes desafiadores, que demandavam disciplina e resiliência. Sem incorporar a rigidez militar ao escotismo, ele aproveitou os elementos positivos de fomento à camaradagem, iniciativa, coragem e autodisciplina para consolidar as bases de um movimento singular, sem fins lucrativos e fortemente fundamentado na educação, no crescimento pessoal e no voluntariado.
Um aspecto da vida militar preservado no movimento é o uniforme, além de símbolos, distintivos e do lenço escoteiro, que destacam os membros do movimento em qualquer lugar do planeta. O uniforme emblemático, sempre estampado com a flor de lis, outro símbolo oficial do escotismo, tem uma importância particular para o movimento, destacada pelo próprio Baden-Powell: ;um uniforme pode construir a fraternidade, pois quando universalmente adotado encobre todas as diferenças de classe e país.;
A presença universal, as mensagens e os símbolos, tão bem cultivados e disseminados pelo Movimento Escoteiro, ganham importância especial neste momento de mudanças profundas que a sociedade vive. Sem abrir mão da noção de patriotismo, prega o respeito à imensa diversidade de culturas e costumes na sociedade, além de promover e valorizar a cooperação e a solidariedade em âmbito global. A ênfase no intercâmbio cultural, na paz e na amizade fortalece a formação e o crescimento das nossas crianças e jovens, que precisam ser norteados a se tornarem cidadãos ativos e agentes de mudança positiva no mundo desafiador que emerge à nossa frente.
Longe de querer substituir a educação formal, o escotismo é um aliado das escolas, com as quais busca construir sinergias que complementem a formação dos jovens, especialmente em liderança, comunicação e relacionamentos. Os escoteiros descobrem o mundo além da sala de aula, algo muito relevante neste momento em que, na confluência das rupturas tecnológicas e da busca pela sustentabilidade, crescerá a demanda por inovações sociais baseadas em colaboração, compartilhamento, interação e relacionamentos. É pouco provável que robôs, softwares e sistemas inteligentes se tornem mais capazes que nós, humanos, na execução de tarefas que envolvam relações complexas, dependentes de empatia e trabalho em equipes cada vez mais diversificadas e sofisticadas.
Portanto, o Movimento Escoteiro precisa ser valorizado e apoiado neste momento em que as escolas se dão conta da importância e da complementaridade da educação não formal, em que a migração e a urbanização impõem desafios sem precedentes à sociedade, em que a expansão da mídia digital e da globalização exige de todos a abertura para o diálogo e a aceitação da diversidade e da pluralidade de pensamentos e crenças. É notável que um movimento iniciado há mais de um século chegue ao presente tão contemporâneo e apto a contribuir para a superação de desafios tão complexos.
Robert Baden-Powell, militar, herói nacional, educador e escritor, soube como ninguém capturar a essência de sua vida repleta de aventuras e desafios para inspirar gerações de jovens. Antes de morrer, aos 83 anos, em 8 de janeiro de 1941, B-P preparou uma mensagem de despedida, que, em essência, pedia: ;Tente deixar este mundo um pouco melhor do que você encontrou;. Uma mensagem tão relevante hoje quanto na década de 1940, e que, certamente, seguirá sendo fonte de inspiração para os jovens no mundo todo.