postado em 13/08/2019 04:05
Momento para expiação
Boa parte da história de abusos sexuais dentro da igreja jamais chegará ao conhecimento do grande público, pois ocorreu em épocas remotas, quando o poder da Igreja sobre a sociedade e até sobre os reis era grande, e o silêncio era regra geral. É preciso destacar, no entanto, que esse tipo de prática condenável está presente não apenas na Igreja Católica, mas em praticamente todas as outras instituições religiosas, o que mostra que essa não é, propriamente uma condição natural da Igreja em si, mas de parte de seus membros.
Onde quer que atue o ser humano, suas impressões e pegadas, para o bem e para mal, ali estarão impressas também. Mesmo antes de assumir a cadeira de Pedro, Francisco já tinha uma noção de que essa seria, ao lado da perda paulatina de fiéis para outras confissões religiosas, o grande desafio de seu pontificado. Neste ano, o papa convocou uma conferência global extraordinária em Roma, para tratar desse assunto espinhoso com os bispos. O Santo Padre, com seu conhecimento da máquina da igreja, a essa altura tem a convicção íntima de que esse tema, por seu teor explosivo para a instituição milenar, continuaria a sofrer resistências dentro da própria máquina burocrática da Igreja, avessa, desde sempre, a tumultos e bisbilhotices mundanas.
As recorrentes acusações de que a Igreja vem, há muito, acobertando esses crimes é outro grande desafio para Francisco. O papa já deve reconhecer, também, que alas dentro da Igreja irão se posicionar incondicionalmente ao seu lado, nem que para isso tenha de cortar na carne a parte podre dessa instituição. Sabe também que esse é um desafio esmagador para alguém com mais de oitenta anos de vida. Sobretudo reconhece que, diante dos relatos públicos desses abusos em todo o mundo, muito dos quais colocados sob os cuidados da justiça de vários países, precisa de uma resposta interna e de providências duríssimas, sob pena de manchar, de forma profunda, sua administração.
Alguns especialistas em assuntos da igreja reconhecem que essa é, talvez, a maior crise já experimentada pela Igreja em seus dois mil anos de história. Na versão mística de alguns fiéis, essa turbulência já era prevista pelo Santo Padre Pio (1887-1968), que, numa de suas visões, teria visto o demônio sentado dentro do templo, afirmando que estava ali justamente para semear a futura cisão no seio da Igreja e que essa maldição seria devastadora. Crenças à parte, o fato é que, em muitos países, os tribunais de justiça estão trabalhando a todo vapor para colocar detrás das grades membros da Igreja, inclusive do alto clero, como aconteceu recentemente na Austrália, com a prisão do cardeal George Pell, ex- numero três do Vaticano.
Muitos acreditam que essa é uma grande oportunidade para deputar a Igreja desses maus clérigos, já que entendem que o que faz uma igreja ser mantida em rumo original de pureza e santidade não é a quantidade de seus membros, mas a qualidade de cada um e seu compromisso com a fé que abraçaram. De fato, algumas estatísticas e censos dão conta de que a Igreja Católica vem perdendo uma média de 465 fiéis a cada dia. Em 2010, por exemplo, havia, 1,7 milhão de católicos a menos do que no ano 2000. No Brasil, na contramão do aumento da população entre 2000 e 2010, da ordem de 12,3%, houve um encolhimento de 1,4% no número de católicos no mesmo período.
Em 10 anos, a igreja teria perdido um número de fiéis equivalente à população de uma cidade como Curitiba. Ciente desse e de outros problemas de igual magnitude, o papa Francisco vem diuturnamente trabalhando para colocar sua igreja nos trilhos traçados pelo próprio Cristo, reduzindo a pompa e a burocracia do Vaticano, seus luxos e ostentações e trazendo a igreja e sua mensagem para aqueles cantos esquecidos do planeta, numa espécie de nova catequese nesse século 21.
O sumo pontífice, por meio de um decreto intitulado Vos estis lux mundi (Vós sois a luz do mundo), passou a obrigar que os bispos denunciem todas as suspeitas de casos de abuso sexual dentro da Igreja. No mesmo documento, o papa incentiva os fiéis a agirem de modo idêntico, apontando os casos diretamente ao Vaticano, para que não passem em branco e para que severas medidas sejam adotadas contra os abusadores, inclusive punindo todos aqueles que eventualmente prossigam acobertando esses casos.
Para tanto, as próprias dioceses, espalhadas pelo mundo, serão obrigadas a notificar esses casos, inclusive com a participação de outras autoridades leigas e da própria justiça. O papa tem noção de que essa medida promoverá uma grande mudança de rumos e, por isso mesmo, espera grandes retaliações. O papa ordena ainda, no documento, que os bispos com conflitos de interesse nesses casos se mantenham ausentes das investigações, de forma a dar maior transparência aos processos. Ele sabe também que corre contra o relógio a tempo de salvar sua igreja dessa decadência que parece se anunciar.
Estudiosos preveem que o Brasil, o maior país católico do planeta, deixe de sê-lo por volta de 2030. Na Europa e em algumas localidades nos Estados Unidos, as igrejas vazias estão sendo transformadas em áreas de lazer e de práticas de outras atividades comerciais. Contudo, mudanças como essa não devem abalar aqueles que têm a fé verdadeira e praticam o cristianismo com base nos elevados princípios éticos do humanismo, orientados pela luz própria. É nesses que o papa acredita que está a base da nova igreja. Afinal, como diz Mateus, 18.20: ;Onde estiverem dois ou três reunidos em meu Nome, ali estou no meio deles;.
A frase que foi pronunciada
;Deus não cansa de perdoar... Nós é que cansamos de pedir perdão.;
Papa Francisco
História de Brasília
Não compre uísque de contrabando. Ele é todo engarrafado em Paramaribo, e o pessoal de lá é mais ladrão do que o nosso. Depois, o contrabando é feito para o Brasil, e os ;entendidos; tomam como sendo ;scotch;. (Publicado em 28//11/1961)