Opinião

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Desde 1960

postado em 14/08/2019 04:06
Persona non grata

Embora esteja entre os 10 países que mais têm contribuído para o aquecimento global, numa posição que varia entre o 6; e 7; colocado, o Brasil pouco ou nada tem feito para melhorar esse desprestigiado ranking. O pior, segundo os cientistas e ambientalistas que trabalham na análise de dados colhidos, em tempo real e em todas as partes do planeta, caso o Brasil prossiga nessa marcha da insensatez, voltando-se contra a maioria das recomendações feitas pelos mais prestigiosos centros de pesquisa do mundo, inevitavelmente, é que acabará em rota de colisão com os países desenvolvidos. Com isso, comprometerá não apenas a própria economia, exportadora de produtos in natura, mas, sobretudo, manchando para sempre sua reputação diante do mundo que clama por bom senso em relação ao meio ambiente. Dessa forma, é preciso que o atual governo comece, desde já, a rever seus compromissos políticos assumidos com a poderosa ala do agronegócio, principalmente sua dependência em relação à parcela desse setor que enxerga nas florestas naturais, no cerrado e em outros biomas, apenas um meio de incrementarem os lucros com um agrobusiness predatório.

Até mesmo a China, que era considerada a grande vilã da poluição global, vem há alguns anos, implementando enorme programa de regeneração ambiental, com a adoção de boas práticas nesse setor, de olho na possibilidade de melhorar a saúde de sua população e, principalmente, sua reputação perante o mundo. É justamente essa característica ética, pouco avaliada entre nós, que, hoje em dia, mais tem pesado na aceitação de parceiros comerciais. A compliance ambiental está hoje em alta em todo o mundo e diz muito sobre a origem e as condições como determinada mercadoria foi produzida e posta à venda. Produtos impregnados de agrotóxicos, ou derivados da derrubada de matas, ou produzidos com mão de obra do tipo escrava ou infantil, perdem mercados nos países mais desenvolvidos, nos quaise essas informações são fundamentais para sua aceitação.

As manifestações e protestos ocorridas na sede da embaixada brasileira de Londres, quando centenas de pessoas lançaram tinta vermelha, simbolizando o sangue dos índios e pichando frases como ;pare o ecocídio; e outras frases de forte conteúdo, têm se repetido em outras partes do mundo com cada vez mais frequência. O pouco-caso com que o governo brasileiro vem fazendo desses fatos só faz aumentar os protestos e intensificar a imagem de que o presidente Bolsonaro será numa espécie de vilão do meio ambiente.

Essa imagem prejudica não apenas os negócios do Brasil com o restante do mundo, mas, sobretudo, aumentam o descrédito do país como um parceiro confiável. A dedução é básica: quem não respeita nem defende o próprio país da depredação e não impede que a população consuma de produtos contaminados ou produzidos com vistas a enriquecer grandes latifundiários, não pode ter, também, qualquer consideração pelo restante do globo.

O desdém e a humilhação com que o presidente tem imposto a seu ministério do exterior, que poderia ajudá-lo a melhorar sua imagem fora do Brasil começam agora a apresentar seus frutos amargos. Bolsonaro vai, a cada dia, se tornando, por obra e vontade própria, persona non grata num mundo que mudou e que ele insiste em não enxergar.


A frase que foi pronunciada


;A Terra é o que todos nós temos em comum.;

Wendell Berry,
romanista e ativista ambiental norte americano


Urnas
; Apenas para que fique registrado, nas urnas disponíveis nas últimas eleições, 73,7 milhões de pessoas, pouco mais de 50% do eleitorado reclamava da identificação biométrica. Geralmente, os idosos, trabalhadores braçais e pessoas que suam muito nas mãos eram os que mais atrasavam a votação por problemas nas digitais.

Novidades
; Por falar em biometria, foi prometido pelo Conselho Nacional de Justiça que a Bahia e Alagoas adotariam um projeto-piloto para implementar a biometria em presídios. A prática contribuiria para a identificação de todas as informações do interno e estimularia a criação do banco nacional digital para criminosos que sofrem processos de execução criminal.

Suporte
; É do senador Randolfe Rodrigues a ideia de criar um seguro para artesãos. Em caso de desemprego receberiam um salário mínimo até conseguir se recolocar financeiramente.

Mistério
; Estranhamente, o permanganato de potássio desapareceu das farmácias. Muitas fórmulas simples, eficientes e baratas não interessam mais aos laboratórios.

Nos detalhes
; Em 10 dias, 24 de agosto, na Livraria Cultura do Casa Park, às 19h, haverá o lançamento do livro assinado por Bruno Ramalho livra-me, poesia. Sem maiúsculas, simplesmente porque é nas coisas simples, minúsculas, que a
poesia nasce.

Criação
; Leda Watson celebra 50 anos de gravura, no espaço Cult PaulOOctavio, dia 17, às 10h30 entrequadra 208/209 Norte. Algumas de suas imagens parecem trazer o inconsciente veladamente.


História de Brasília
Tome o uísque nacional, que não dá dor de cabeça nem mal-estar. E mais: pedindo nacional, é mais barato. Pedindo estrangeiro, você paga mais caro, e toma mesmo é o nacional. (Publicado em 28/11/1961)

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