postado em 14/08/2019 04:06
Mais de uma década após a primeira emissão de green bonds pelo Banco Mundial em 2008 e um volume total de USD 167,8 bilhões de emissões até o momento, o financiamento verde provou que veio para ficar. Hoje são os EUA que lideram o ranking de emissão (com 20% do mercado), seguidos pela China (18%) e França (8%). Para este ano, prevê-se um total de emissões acima de USD 200 bilhões. Nada mal.
No Brasil chamamos green bond de título verde. Nossas emissões chegam à casa de USD 6 bilhões, com a maioria dos recursos captados canalizados para projetos de energia renovável. É verdade que ainda somos uma gota no oceano do mercado financeiro verde, mas ninguém nega o imenso potencial do Brasil quando o assunto é green finance. Dono das maiores florestas do planeta e com uma agricultura que alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, o Brasil tem uma capacidade de geração de energia renovável excepcional e está numa posição única para construir um substancial pipeline de investimento verde.
Mas o que são os green bonds exatamente? Títulos verdes são apenas títulos de dívida comuns que trazem consigo um recurso adicional benéfico ao clima. Podem ser emitidos por governos, empresas, municípios. Exatamente como um título de dívida comum. A diferença, então: para que seja considerado verde, todos os rendimentos da captação de recursos desse título devem ser utilizados para financiar projetos e ativos destinados à mitigação e adaptação às alterações climáticas. Nesse grupo de projetos estão incluídos gestão de resíduos e água, energia renovável, uso sustentável da terra, transporte limpo, controle da poluição e construções verdes, entre muitos outros.
Como usar os títulos verdes para impulsionar a infraestrutura e a agricultura no Brasil? Devido à qualidade ecológica, com transparência e divulgação adicionais, os títulos verdes são frequentemente vistos como mais atraentes para investidores em todo o mundo. Tendo em vista que a economia brasileira deverá crescer menos que 1% este ano, de acordo com o último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central do Brasil, considerar fontes alternativas de financiamento seria uma excelente forma de reduzir o deficit orçamentário atual, diminuindo a dependência do capital público para realização de grandes projetos.
Diante de catástrofes naturais que se repetem de tempos em tempos, como as inundações que castigam várias cidades do Brasil, os títulos verdes surgem como opção viável para ajudar governos e empresas de infraestrutura a financiar projetos focados em mitigação e adaptação climática, como sistemas de defesa contra inundações, infraestruturas hídricas, gestão de resíduos e transportes e mobilidade urbanos.
No setor de agronegócios, por exemplo, vemos o crescente interesse em veículos de investimento local, como o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), no qual credenciais verdes serão associadas a padrões de produção de baixo carbono e maior resiliência no uso da terra. O Brasil tem um enorme potencial para ser líder no mercado financeiro verde, mas há ainda muito a ser feito: desde a identificação de um sólido conjunto de projetos verdes que possam ser conectados a investidores locais e internacionais até ações de educação e conscientização de mercado. Esse é um desafio compartilhado que requer uma abordagem cooperativa.
Um dos primeiros passos foi dado em 2016, quando representantes de fundos de pensão nacionais, seguradoras, bancos, grandes setores da indústria e investidores se reuniram para lançar a Iniciativa Brasileira de Finanças Verdes (BGFI), grupo de desenvolvimento de mercado que objetiva impulsionar a prosperidade econômica e conectar os investidores às oportunidades de investimento. Paralelamente, um grupo de investidores domésticos, representando R$1,8 trilhão, assinou uma declaração comprometendo-se a desenvolver um mercado interno de financiamento verde.
Em 2019-2020, esperamos ver mais emissões verdes à medida que os mercados se recuperem e a demanda por oportunidades verdes continue a se expandir. Também prevemos um uso ainda grande de instrumentos de dívida interna, como debêntures de infraestrutura, securitizações e fundos especiais, para permitir que os investimentos verdes em agricultura, infraestrutura e energia prossigam. Certeza de tempos emocionantes pela frente...