postado em 18/08/2019 04:11
Bem cedinho já começam a chegar os avisos de mensagem. O pombo-correio dos novos tempos é um bip, um toque que tenta ser música, mas não é. A tecnologia dita o ritmo da comunicação. É rápida, dinâmica, pontual, certeira, cortante. Sem o romantismo das cartas de outrora. Mas segue viva e, acreditem, pode ser profunda, intimista, aconchegante e reflexiva.
Tenho um grande amigo que se mudou para o Canadá. Inteligente, lúcido, preparado, consistente, troca comigo torpedos toda semana. Quer notícias mais próximas do Brasil. Contamos nossas impressões sobre o país. De lá, ele me diz como observa o cenário. Meio atônito, avalia comigo as notícias que chegam por aquelas bandas. ;Como estão nos vendo por aí?;, eu quero saber. ;Não tá bonito;, ele me confirma.
Leitor atento dos assuntos da cidade, ele anda com a sensação de estar lendo notícias do passado. ;Tirar pardais? Parece coisa da década de 1990;. Essa discussão já foi feita e superada, concordamos. Brasília poupou uma enormidade de vidas desde a Campanha pela Paz no Trânsito, uma iniciativa desse jornal, encampada pela sociedade como um todo. Código de Trânsito, redutores de velocidade, cinto de segurança, cadeirinha para as crianças, Lei Seca... E a cidade no caminho de alcançar a meta da ONU e reduzir em 50% as mortes no trânsito em uma década... Vamos andar para trás? Nenhum de nós duvida que há uma opção pelo descaminho aí.
Meu amigo sabe dos assuntos de economia e política. Acha um avanço a reforma da Previdência virar assunto nacional e ser apropriada pelo Congresso. E ri do meu espanto com o repertório de piadas nacionais. Ele diz que não se surpreende com a veia humorística das excelências. ;Nunca a política produziu tanto humor no Brasil. Companhia Brasileira de Comédia... Ops! De tragédia;, concluímos. Nunca o riso esteve tão próximo das lágrimas.
No fundo, sabemos, não está engraçado, não. A preocupação dele, lá de longe, chegou a níveis alarmantes por causa da questão do desmatamento. ;Agora, vai pegar;, ele me diz. Não se brinca com o meio ambiente ; e não se rasga dinheiro. O Brasil perdeu R$ 287,6 milhões de investimentos estrangeiros em dois dias. Mais de 2 mil Km; desmatados em um mês.
Se o mundo vai ficar de braços cruzados vendo o Brasil destruir tanto verde? Eu e meu amigo lá do Canadá compartilhamos a mesma certeza: ;Não;. Os ciclos da economia, o PIB oscilante, o crescimento pífio, o conservadorismo que vai e vem, as voltas e revoltas dos políticos... tudo isso tem conserto. Mas a sobrevivência do planeta não aceita bravatas. Meu amigo nem sabe se volta para o Brasil, mas sente saudades. Me diz que é difícil viver longe. Eu digo a ele que viver perto pode ser mais dolorido.