Opinião

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postado em 18/08/2019 04:11
Nacionalismo e patriotismo

Nacionalismo, que os dicionários apontam como exaltação dos valores e tradições nacionais, e que, nesse sentido, não difere muito do que é encontrado na maioria dos países mundo afora. Mas alcança significado deveras preocupante, quando imbica para o lado de um movimento político, transformando-se numa ideologia fechada, em que a xenofobia e a distorção desses valores substituem o bom senso, colocando algo abstrato como pátria muito acima dos interesses de seus cidadãos.

Em lugar nenhum do planeta e em tempo algum, a pregação do nacionalismo como valor fundamental de uma sociedade rendeu bons frutos. Pelo contrário. A história mostra que a distorção conduziu, invariavelmente, seus povos à ruína. É preciso, pois, tomar ciência desse perigo, adotando salvaguardas e muita ponderação quando, entre nós, se ouve, ao longe, a pregação contínua dos valores nacionais como mote e bordão político. Dito isso, é preciso ouvidos de psicanalista, que ausculta nas entrelinhas, para filtrar o que vem sendo pregado sistematicamente pelo presidente Bolsonaro nas suas muitas manifestações em público.

Se o nacionalismo do tipo cultural é necessário para a preservação da identidade nacional em meio à pasteurização da cultura mundial, o dito nacionalismo de viés político e ideológico serve apenas para a criação mitológica e farsesca de um ;pai da pátria;, a quem os cidadãos, transformados em filhos obedientes, recorrem em busca de conselhos, amparo e colo. Não é esse o caminho a ser trilhado.

A República, com seus valores impessoais e equitativos, é a bússola a ser seguida. Também é ao Estado democrático de direito que os brasileiros devem recorrer para garantir plena cidadania e outros valores, como dignidade humana. O patriotismo, dizia o filósofo do Méier Millôr Fernandes ;é o último refúgio do canalha, sendo que no Brasil é o primeiro;. Na realidade, a dupla patriotismo-nacionalismo, apesar dos estragos que tem provocado no mundo, parece renascer entre nós fora de contexto, tempo ou lugar, ainda mais quando entoado por grupos políticos.

Nesse sentido, as seguidas bravatas feitas pelo presidente contra, por exemplo, o fim anunciado nos investimentos em preservação da Amazônia, bancados há anos pela Alemanha e pela Noruega, e que somam bilhões de reais, devem ser lidas com dupla atenção. De um lado, há suspeitas de que ONGs que atuam na região, bancadas por esses países, estariam, de fato, não preocupadas com as árvores e os povos indígenas, nas com o riquíssimo subsolo dessas áreas remotas. Essa é a versão defendida por setores do governo. Por outro lado, as evidências que se têm até aqui são que essa ajuda tem sido fundamental para preservação não só das matas, mas, sobretudo, dos povos indígenas.

Infelizmente, retóricas políticas do tipo nacionalista, ao criarem uma nuvem de dúvidas sobre esse caso particular, confundem mais do que esclarecem. O que os brasileiros necessitam saber, nesse caso, até para tirar suas conclusões, é se parcerias como essas são benéficas ao nosso país quanto a questão da preservação dos povos e das matas dessas regiões. Para tanto, é preciso que o governo comprove, por meios de fatos, que essas parcerias escondem motivos escusos e muito além do que se pensa. O que não dá é fazer pouco-caso da ajuda estrangeira, desprezando anos de serviços em nome de ideias vagas como patriotismo, nacionalismo e outros ismos aleatórios. Se nessa questão, a pátria significar a posse de um deserto árido e inóspito à vida, melhor repensar esses conceitos a bem do futuro dos brasileiros.

A frase que foi pronunciada

;É o mistério que permanece. Não a explicação;.
Neil Gaiman, autor britânico.

Novidade
  • Agora o combate a ligações de vendas por empresas de telemarketing, operadoras de celular e bancos está forte. Já com milhões de assinaturas o site Não me pertube despertou a atenção do GDF que já lançou pelo Procon-DF o Me respeite. De qualquer forma, o sofrimento alheio gerou um banco de dados volumoso.

Caixa
  • O mercado imobiliário pode melhorar com as facilidades de financiamento apresentadas pelo governo federal. O presidente Bolsonaro anunciará a novidade na terça-feira. A renegociação com caminhoneiros foi feia por ele e pelo presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães.

Ceará
  • Assusta voltar a Jericoacoara, depois de muitos anos. A Duna Pôr do Sol, cartão-postal cearense, diminuiu assustadoramente. São cinco metros a menos por ano.

Casa Cor
  • Ações interessantes não param pelo país, assinadas pela iniciativa Casa Cor. Projetos de revitalização do patrimônio arquitetônico é um dos objetivos para devolver aos habitantes, edificações valorizadas pela estética. Dona Yolanda Figueiredo ficaria orgulhosa da extensão de seu projeto.

Muda já
  • Quem tem parentes chegando a Brasília de ônibus pode ficar horas aguardando por absoluta falta de informações. Noutros estados, a aflição é a mesma. Com GPS em franco desenvolvimento, está na hora de as empresas investirem para divulgar o percurso dos ônibus interestaduais pela internet.

História de Brasília
O número de barracos está aumentando demais nas superquadras ainda não construídas no Plano Piloto. É impressionante a rapidez, com que se constrói uma invasão. (Publicado em 28/11/1961)

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