Opinião

Desconstruir o machismo

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 22/08/2019 04:06
Três mulheres vítimas de violência em uma única manhã, no Distrito Federal. Assim começou a última terça-feira, na capital do país. O caso da idosa assassinada pelo filho é uma tragédia do começo ao fim. Do que está apurado até agora, o rapaz teria um histórico de doença mental e de fuga do hospital psiquiátrico. No outro, um homem tentou assassinar a mulher e a amiga dela, depois tentou se matar. Os três trabalhavam em um frigorífico, onde ocorreu o crime.

As tragédias da terça-feira são, por si só, alarmantes. Mas o número de vítimas é ainda maior. Nas periferias e nas áreas nobres de Brasília, existem centenas de mulheres acorrentadas em um ciclo que inclui todos os tipos de violência e, em boa parte dos casos, há a combinação de todos eles: a física, a psicológica e a financeira. Duas legislações em vigor ajudam a dar visibilidade aos casos: a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio.Elas são instrumentos importantíssimos para a proteção e punição do agressor e têm, certamente, encorajado muitas mulheres a denunciar. Mas é preciso muito mais.

Durante a XIV Semana da Justiça pela Paz em Casa, promovida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), magistrados que atuam em núcleos especializados de combate à violência contra a mulher destacaram o papel da divulgação de informação qualificada e da educação das crianças e jovens.

Entre os pontos que os magistrados destacaram estão: estamos empoderando as meninas, mas o que estamos fazendo pelos meninos que, no futuro vão encontrar essas mulheres e se relacionar com elas? Os homens precisam entrar na luta pelo fim da violência contra a mulher. Precisamos de homens feministas e necessitamos discutir a masculinidade tóxica (meninos não choram, só para citar um exemplo).

A construção do machismo é secular e está tão entranhada na nossa cultura que banalizamos e reproduzimos comportamentos que estão matando de meninas a idosas. Os crimes ocorrem com uma frequência aterrorizante. As crianças têm assistido à mãe ser espancada e morta pelo pai. Cicatrizes que levarão para a vida toda. Passou da hora de esse tema ser tratado de forma sistemática na rede de ensino, na rede de saúde, nas empresas públicas e privadas. Se não o fizermos, amanhã, a vítima poderá ser uma amiga, uma filha, uma prima ou a avó. Aí, terá sido tarde demais, pelo menos para elas.

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