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Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 22/08/2019 04:06
Não enxergo vocês daqui de cima

Após oito meses de governo, o cenário político que tem se esboçado até aqui mostra claramente que, com relação à performance conjunta dos Três Poderes da República há, de fato, um distanciamento crescente e contínuo entre as reais expectativas da população e aquilo que as instituições têm apresentado de concreto.

Em certa medida, as respostas dadas por cada um desses poderes isoladamente às diversas questões que se impuseram não apenas rumaram contra o desejo da sociedade, mas criaram um presságio de que o divórcio entre os brasileiros e o Estado permanece como uma espécie de muro, a dividir o grosso da população, depauperada com as altas taxas de impostos e tributos e uma elite a quem tudo é concedido, até mesmo os favores e a cegueira da Justiça.

Apenas para ficar em exemplos recentes que demonstram a configuração permanente desse abismo, o que se tem observado no caso dos sensíveis cortes orçamentários impostos a diversos setores, como saúde, educação, investimento, pesquisa e outros de interesse geral que penalizam a nação, não se tem notado o mesmo rigor certeiro na tesoura do governo quando a questão é liberação de bilhões de reais para emendas parlamentares e outros gastos do gênero.

Também não se vê rigor orçamentário algum quando o assunto é o aumento escandaloso que se anuncia para o Fundo Eleitoral, que, possivelmente, passará de R$ 1,7 bilhão para R$ 3,7 bilhões apenas para financiar as campanhas municipais de 2020. Obviamente, os recursos para esse salto indecente virão do Orçamento da União, uma peça de ficção quando se trata da necessidade dos cidadãos, mas que se torna real quando o assunto é azeitar as engrenagens da fabulosa e voraz máquina política.

Uma visita a qualquer grande hospital público das metrópoles brasileiras pode dar uma ideia da profundidade desse abismo. O pior é que a desilusão dos brasileiros não se atém apenas ao Legislativo e ao Executivo, se estendendo também ao Poder Judiciário, sobretudo à mais alta instância. O caso envolvendo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que serviria para fiscalizar a movimentação suspeita de recursos, principalmente públicos, foi ordenado, pelo Supremo Tribunal Federal, para que a instituição cessasse o fornecimento de informações ao Ministério Público e à Polícia Federal sem prévia autorização judicial, de forma a permitir, preventivamente, filtrar quaisquer dados que atingissem as altas autoridades, sobretudo ministros togados.

Nesse caso, o Legislativo se manifestou também no sentido de garantir a permanência desse órgão na pasta da Economia, onde poderia, com mais facilidade, sofrer ruídos políticos. Também a Receita Federal foi ameaçada a não repassar dados para abastecer investigação sem a autorização de juízes. O cerceamento de informações sobre movimentações financeiras, de tão grave, paralisou e inviabilizou a continuidade de milhares de investigações em curso, o que tem chamado a tenção inclusive de organismos como a Transparência Internacional (TI).

Em nota pública, a TI afirma que ;vê com preocupação a instabilidade à qual está sujeito o Coaf, desde o início de 2019;, a transferência desse órgão para o Banco Central, onde as interferências políticas poderão ser maiores ainda, mereceu um alerta da TI: ;O Bacen, até o momento, não detém autonomia formal, seu presidente é nomeado e demissível pelo próprio Bolsonaro;.

É um quadro desolador em que o cidadão é obrigado a visualizar. Todos os dias se assiste //// alguma movimentação dentro dos Três Poderes, com vistas a enfraquecer e mesmo debelar a força tarefa da Lava-Jato, de modo a cessar as investigações, justamente quando ela se aproxima dos altos escalões da República, principalmente aqueles que ainda estão no exercício do poder.

Exemplo desse esforço uníssono para esvaziar essa que é a mais importante investigação realizada nesse país pode ser conferida com o destroçamento, pelo Congresso, das 10 medidas contra a corrupção e a posterior promulgação da Lei de Abuso de Autoridade, escudo e elmo para todos aqueles enrolados com a Justiça. Para qualquer lado que se vire, o que o cidadão observa é um Estado encastelado no alto da colina, a sorver os esforços e o futuro da nação.


A frase que foi pronunciada
;Transferência do novo Coaf para o BC foi para despolitizar órgão.;

Ministro da Economia,
Paulo Guedes


Bem-vindos
; Hoje, a partir de 12h30, os amigos de Gilberto Amaral vão se reunir no Piantella para homenagear o aniversariante, colunista social mais antigo da cidade. Basta chegar ao restaurante e aderir ao evento. O aniversário foi na terça, quando Gilberto comemorou seus 84 anos entre os familiares se divertindo ao relembrar as histórias ao longo de seis décadas de experiência humana.


Descontrole
; Você sabia que pode ter 27 carteiras de identidade cada uma com um número? Está na hora disso mudar.


Agenda
; Neste sábado, Moema Creveiro lançará o segundo volume do livro de composições para piano sobre ritmos nacionais 13 Pequenas Peças Brasileiras, na Flipiri (Feira de Livros em Pirinopolis), às 14h, no cinema da cidade com apresentação musical. Para quem viaja ao exterior, deixamos a dica: é o melhor presente para espalhar pelo mundo.


História de Brasília
Os políticos que ficam atrapalhando as cidades satélites, bem que podiam deixar os subprefeitos trabalhando sossegados. E para esses, a notícia que é um desengano: não haverá eleição para vereador em Brasília, se prevalecer a opinião sensata. (Publicado em 28/11/1961)

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