Opinião

Artigo: tributos e queimadas

"Está na hora de deixar para trás toda a complexa, ineficiente e cara megaestrutura atual e buscar saídas na inovação tecnológica"

Plácido Fernandes
postado em 26/08/2019 12:15
Floresta Amazônica em chamasA ideia inicial era falar de reforma tributária. De como, em plena revolução digital, ainda discutimos ;soluções analógicas; que nos manterão nas trevas da economia, permitindo brechas que hoje funcionam quase como incentivo à sonegação. Está na hora de deixar para trás toda a complexa, ineficiente e cara megaestrutura atual ; com tantos impostos que nem o mais competente dos especialistas é capaz de enumerá-los de cor ; e buscar saídas na inovação tecnológica. Esqueçam a volta de uma retrógrada CPMF repaginada. É hora de pensar no futuro que ameaça nos engolir e discutir a adoção de modelos baseados em blockchain, que nos permitam a adoção de taxação 4.0, automática, instantânea, mais justa e universal, sem intermediários, sem achaques, sem burocracias. Em resumo, era essa a questão que queria abordar. Mas a fogueira que Bolsonaro acendeu na questão do meio ambiente, da qual o Brasil pode sair bastante chamuscado, falou mais alto.

[SAIBAMAIS]Não fosse a inflamada retórica do presidente, certamente o país estaria às voltas com o combate aos incêndios na floresta, como ocorre todos os anos em épocas de seca na região. No entanto, a situação é muito mais grave: aproveitando-se das declarações inábeis do brasileiro na questão não apenas da Amazônia, mas do meio ambiente, de forma geral, o presidente francês Emmanuel Macron não teve pudor em recorrer até a imagem de um fotógrafo que morreu em 2003 para ;denunciar; o descaso atual do Brasil com a Amazônia, que chamou de ;nossa casa;.

É muito bom e salutar que o mundo esteja atento e preocupado com a defesa do meio ambiente. Mas chama a atenção e merece repúdio, nesse episódio, o sensacionalismo e oportunismo de Macron na forma como buscou tratar a questão. A chanceler alemã, Angela Merkel, foi rápida em perceber o movimento e se opôs à proposta do francês de boicote ao Mercosul, o bloco que reúne Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Ela observou que, se o importante é salvar a Amazônia, impor sanções comerciais que prejudiquem a economia brasileira vai apenas piorar a situação. E defendeu que, em vez de retaliação, o G7, grupo dos sete países mais ricos, e a União Europeia discutam como podem ajudar o Brasil a resolver o problema das queimadas.

Na cúpula do G7, Macron acabou isolado na questão do boicote, e o grupo se dispôs a colaborar com o Brasil e com todos os países afetados pelos incêndios na região amazônica. Contudo, é oportuno que Bolsonaro não volte a subir o tom. Mais do que nunca, o mundo está de olho no Brasil. E há países, como a França e a Irlanda, loucos para escapar da concorrência com o agronegócio brasileiro, um dos mais produtivos, eficientes e competitivos do planeta. É bom que o Planalto tenha aprendido a lição.

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