No imaginário popular, um parlamentar serve para fazer leis. Não acredito nisso. Para mim, a fiscalização de serviços, equipamentos e gastos públicos é o que mais deveria ocupar o Poder Legislativo. Durante a campanha, foram muitas as pessoas que me disseram que os problemas dos serviços oferecidos à população talvez não existissem se os políticos utilizassem as estruturas públicas. Pois bem. Decidi que, sempre que possível, eu usaria esses serviços e equipamentos para fazer minha avaliação do problema.
Foi assim que fui tomando pé do que funciona e do que precisa ser rediscutido. E senti, nos últimos dias, os imensos problemas que a população do Distrito Federal enfrenta quando precisa recorrer ao serviço de saúde.
Recorri à rede pública há poucos dias, com fortes dores abdominais e febre alta. Fui primeiramente ao Hospital de Base. Seria o que qualquer cidadão numa emergência médica faria. Sei que o sistema é organizado de forma diferente e que a forma correta de acessá-lo seria pelas Unidades Básicas de Saúde. Mas é preciso levar em conta que esse equívoco é semelhante ao que acontece todos os dias com boa parte dos pacientes.
Acho muito difícil acreditar que a população saiba que não deve correr para os hospitais quando sente dor ou está numa situação de emergência. Se a forma de acessar a Atenção Primária é pelas UBSs, então, que se promova uma ampla campanha de divulgação informando isso. Só a massificação da informação fará com que essa cadeia de atenção à saúde seja internalizada.
O fato é que, ao chegar ao Hospital de Base, recebi a informação de que o hospital que atende emergência de clínica médica é o Hran, para onde eu me dirigi. Aguardei cerca de 30 minutos para fazer a triagem e recebi a classificação amarela. Nesse momento, a informação era de que não havia médicos na unidade e de que o tempo de espera para atendimento deveria ser de cerca de duas horas.
Algum tempo depois, os atendentes me disseram que só havia um médico na emergência. A informação contrastava com a escala disponível no site e também no aplicativo ;Siga Brasília;. Aí está a primeira grande divergência de informações. Na escala afixada na recepção, constavam os nomes de médicos que deveriam estar presentes no momento. A informação era diferente da que constava no aplicativo ;Siga Brasília;, de informações sobre escala de profissionais. Onde estavam, então?
Há um sério problema de transparência na saúde pública. A classificação da gravidade de cada quadro é extremamente subjetiva. No intervalo entre a triagem e o atendimento efetivo, muitos casos se agravam e podem se tornar irreversíveis. Isso poderia ter acontecido comigo. Enquanto esperei atendimento, ninguém do corpo clínico tomou consciência de que meu quadro estava se agravando. Nem o meu, nem o de todos os outros pacientes que aguardavam, simplesmente porque, depois da triagem, até o efetivo atendimento, não há uma nova checagem.
Isso é muito grave e pode levar à morte. Acredito que o Ministério Público precisa apurar essa questão e que o Parlamento deve se debruçar sobre o problema e apresentar soluções concretas e rápidas. O orçamento da Saúde do Distrito Federal é de mais de R$ 6 bilhões anuais. A atenção primária precisa ser prioridade. É ali que podemos deter o agravamento de quadros relativamente simples.
Cabe a nós, integrantes do Legislativo e do Executivo, o desenvolvimento de um trabalho conjunto para minorar os problemas. Faltam médicos, o sucateamento dos equipamentos e da própria infraestrutura dos hospitais é visível e o desamparo da população é uma realidade crescente.
Recentemente, promovi uma audiência pública na Câmara Legislativa sobre as condições de saúde mental do servidor público. Pude perceber o nítido desgaste dos servidores da Saúde do DF que lidam, na ponta, com os problemas do setor. São poucos servidores para muitos atendimentos, o que provoca uma sobrecarga e adoecimento. Há uma crise estrutural que precisa ser repensada.
Sabemos que os recursos públicos são finitos, e as dificuldades e necessidades, imensas. Mas acredito na definição de prioridades e em ações focadas. Saúde precisa ser a prioridade zero. Precisamos concentrar esforços, recursos e energia na busca por saídas que ao menos minimizem a situação de desamparo da população.
*Deputada distrital pelo partido Novo