postado em 14/09/2019 04:05
Uma história do Lago ParanoáTal como qualquer um de nós ao completar 60 anos de existência, o Lago Paranoá reúne um conjunto significativo de lembranças que falam de seu passado, de sua origem, contando histórias de pessoas, e lugares que marcaram os primeiros anos da capital. No caso particular desse lago artificial, projetado para dar contorno paisagístico e urbanístico à cidade, sua construção obedecia também a critérios práticos como a formação de um microclima mais confortável em seu entorno, além da geração preciosa de energia elétrica.
Nos primeiros anos, quando ainda não existia praticamente nenhuma embarcação cruzando suas águas e quando o lago estava numa fase de acomodação no terreno, era possível observar, em suas margens, a formação de bolhas de ar que brotavam do fundo, indicando que a água estavam lentamente penetrando no solo poroso do cerrado.
Naquele tempo, era comum também se avistar uma infinidade de imensos troncos de árvores boiando sobre a superfície do lago, resultado dos cortes e da limpeza da vegetação que foram efetuados nos vales e matas ciliares que seriam cobertos pelas águas.
Eram nesses troncos que a garotada se divertia e se equilibrava para mergulhar e navegar nas águas ainda limpas e cristalinas. Para os jovens que moravam próximos ao lago, como na Vila Planalto, na Vila do Braguetto e outras, o Paranoá era um imenso parque aquático a alegrar a vida simples e despretensiosa daqueles anos 1960. Para a grande maioria dos candangos que não eram associados aos clubes que foram se estabelecendo ao longo das margens do Paranoá, o lago era a grande piscina pública com recreação garantida.
Dos muitos personagens que se estabeleceram às bordas do lago, onde construíram suas vidas e de onde retiravam o sustento para si, talvez um dos mais célebres e conhecidos por todos que buscavam esse tipo lazer, foi seu Vicente. Vindo de Minas Gerais, no fim dos anos 1950, ele construiu sua morada defronte ao antigo e imenso espelho d;água que se formava com as águas do Rio Bananal, nas proximidades da Ponte do Braguetto. Construiu sozinho sua casa, tijolo por tijolo, com a argila abundante encontrada naquela área. A água que consumia vinha de uma das muitas minas que brotavam naquela região. Construiu também os barcos que arrendava para os visitantes. Alugava ainda as varas de pescar, com o bambu que plantara em sua chácara, fornecendo ainda os borós e as minhocas encontradas ao redor. Vivia desse ofício e sua clientela era variada e constante.
A prosa mineira, cheia de mistérios e introspecção era uma atração à parte a atrair plateias. Como bom mineiro, reservado, pouco se sabia da vida passada de seu Vicente. Preferia falar de outros assuntos, como de discos voadores, fantasmas e outras estórias do além. Chamava a atenção de todos pelo hábito, nada comum, de salpicar pequenas doses de terra que escolhia e selecionava, em seu prato de comida. Dizia que era necessário para manter o contato com o solo e com os minerais que eram nossa própria origem.
Naqueles anos, o espelho d;água que se formava diante de sua casa era magnífico, extremamente limpo, frio e profundo, o que atraia muitas aves e peixes. Para os visitantes, nunca faltava uma fruta da região, um peixe assado, um gole de pinga e fumo de rolo. Como todo autodidata, ao estilo Robson Crusoé, costurava suas roupas, construía seu próprio mobiliário, mesa, cadeiras e cama. Era sem dúvida, uma figura ímpar, ilhado na própria solidão, perdido naquela região. A construção do Setor Noroeste, assim como da Trevo de Triagem Norte, ao contribuírem para assorear e destruir o belo espelho d;água e soterrar as minas que brotavam naquela área, sepultou também aquela história, cumprindo a sina que afirma que o progresso é o avanço inevitável da poeira.
A frase que foi pronunciada
;Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.;
Rubem Alves. psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro.
Pesquisa
Não foi tão avassalador o resultado da pesquisa feita pelo E-cidadania, do Senado sobre a PEC que limita a duração das férias dos magistrados e membros do Ministério Público há 30 dias. Havia também a pergunta sobre vedar a adoção da aposentadoria compulsória como sanção disciplinar e prever a demissão, por interesse público, dos magistrados e dos membros do Ministério Público. O votos foram para o sim, 6.765 e, para o não, 4.139
Partida
Ontem, foi um dia pesado e triste. Recebemos a notícia do falecimento do ex-senador Odacir Soares e de Roberto Passarinho. Nosso abraço à Leinha e Júlia.
História de Brasília
Durante o governo do dr. Jânio não se fez nada em matéria de asfalto. Agora, até Deus está ajudando. Atrasou a chuva, o mais que pôde, para não prejudicar a pavimentação. (Publicado em 30/11/1961)