Opinião

Artigo: Eleições em Portugal

O Partido Socialista em Portugal conta as horas até 6 de outubro, confiante no estatuto de vencedor

Tiago Vidal*
postado em 17/09/2019 09:00
O Partido Socialista em Portugal conta as horas até 6 de outubro, confiante no estatuto de vencedor

Em menos de um mês, os portugueses vão às urnas para escolher o próximo governo, num contexto positivo raro na história democrática do país. A difícil recuperação da crise financeira, que obrigou Portugal a cumprir um programa de resgate financeiro da famosa troika ; constituída pelo Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu ; transformou-se num cenário de crescimento anual, beneficiado pela conjuntura internacional, e equilíbrio nas contas públicas, apoiado num inédito acordo parlamentar do Partido Socialista com as forças políticas mais à esquerda.

O sucesso dessa solução única em toda a Europa virou o país à esquerda: o Partido Socialista conta as horas até 6 de outubro, confiante no estatuto de vencedor, à espera apenas de saber se o novo governo, liderado pelo primeiro-ministro, António Costa, terá maioria absoluta de deputados no Parlamento. Enquanto Portugal vive o caminho para as eleições legislativas, o que pensarão os milhões de brasileiros do outro lado do Atlântico sobre o futuro desse país? E o que podem esperar?

Hoje, Brasil e Portugal partilham muito mais do que a língua e a história. Depois de uma queda de 31,93% na imigração, entre 2010 e 2016, Portugal tem surgido como alternativa para os brasileiros. Representam, atualmente, a maior comunidade de imigrantes em naquele país, com um crescimento de 23,24% no ano passado. E, se noutras épocas o país era o destino de eleição para uma faixa da sociedade brasileira que esperava encontrar na Europa uma oportunidade para uma vida mais segura e financeiramente estável, a tendência recente é bem diferente: os mais de 105 mil brasileiros que vivem em Portugal, segundo os mais recentes dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, são um grupo vasto e heterogêneo, que ganhou relevância na sociedade portuguesa com a chegada de vários investidores, gestores e empreendedores.

Os dados do mercado imobiliário assim o confirmam. Os imigrantes brasileiros passaram a ser, em 2018, os cidadãos estrangeiros que mais casas compram em Portugal ; cerca de 7%, segundo os dados da maior imobiliária em Portugal, a Remax. No segmento de luxo, os números são ainda mais impressionantes: um estudo da JLL mostra que os cidadãos brasileiros foram responsáveis pela aquisição de 25% dos imóveis de luxo em 2018, ultrapassando os franceses e os ingleses como principais compradores estrangeiros.Enquanto em termos sociais se fala do possível ;efeito Bolsonaro; na imigração para Portugal, no plano político, os dois principais líderes políticos portugueses mantêm uma posição de aliança atlântica.

Quando recentemente o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu um boicote ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul, o chefe do governo português, António Costa, foi o primeiro a defender que ;o Brasil precisa de solidariedade e não de sanções;, antes de Alemanha, Reino Unido e Espanha assumirem posições semelhantes; do outro lado do Atlântico, o porta-voz da Presidência da República do Brasil, Otávio Rêgo Barros, falava de uma conversa telefônica ;bastante franca e amistosa; entre Costa e Bolsonaro ;para transmitir, com uma leitura objetiva, dados reais da situação de queimadas e incêndios; na Amazônia. Meses antes, no dia seguinte à tomada de posse de Jair Bolsonaro, o chefe de Estado e presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, se tornava o primeiro político internacional a ter um encontro oficial com o novo presidente do Brasil, falando de uma ;reunião de irmãos; e abrindo a porta a uma visita de Bolsonaro a Portugal no fim deste ano ou no início de 2020. Para já, a posição do governo é de que a agenda oficial não prevê qualquer encontro em território português.

Ainda que a composição do próximo governo dependa dos resultados das eleições, a manutenção da liderança de António Costa e de uma presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, baseada nos consensos nacionais e internacionais, promete manter a postura de parceria e laços históricos com o Brasil, também importantes para assegurar condições à tendência de crescimento da população brasileira em Portugal e ao fortalecimento das relações econômicas entre os dois países.

*Sócio e diretor-geral da LLYC em Portugal

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