Opinião

Artigo: Por Weverton

O sofrimento de Weverton Leonardo Elias, 31 anos, no Hospital de Base, nos traz lições. A sociedade precisa exigir valer os seus direitos

Rodrigo Craveiro
postado em 18/09/2019 09:00
Weverton foi baleado em briga de trânsito em Taguatinga e luta por uma vaga na UTI do Hospital de BaseA vida pode mudar em questão de segundos. Muitas vezes por uma atitude intempestiva e absurda. De repente, uma reação tresloucada de outra pessoa aprisiona toda uma família no medo da perda e adia sonhos. Desde 3 de agosto, Weverton Leonardo Elias, 31 anos, luta pela vida no Hospital de Base. Naquele dia, teve a infelicidade de cruzar o caminho de um policial militar e (pasmem) instrutor de tiro que sacou a arma e disparou porque disse ter ficado com ;raiva; ao ser fechado no trânsito, em Taguatinga. A bala atingiu a cabeça de Weverton, e o agressor fugiu do flagrante. Foram 40 dias em coma, uma melhora substancial, alta da UTI, até que uma parada cardíaca fez com que o seu quadro de saúde se agravasse. Os médicos somente estabilizaram sua condição clínica depois de 30 minutos. Até ontem, Weverton aguardava vaga na UTI e corria risco de nova parada cardiorrespiratória.

[SAIBAMAIS]Em um país de Primeiro Mundo, tão logo fosse estabilizado clinicamente, o paciente seria transferido para a UTI com a máxima urgência. Em caso de não disponibilidade do leito, seria removido a um outro hospital. Segundo a Constituição brasileira, a saúde é direito de todos e dever do Estado. Em tese, o cuidado à saúde é ato compulsório do governo. A família de Weverton provavelmente precisará acionar a Justiça para lhe fazer valer esse direito. Como se não bastasse a montanha-russa de emoções, os parentes de Weverton ainda precisam orar ou torcer por uma vaga na UTI. Assim como ele, a vida de tantos brasileiros depende de um sistema de saúde pública repleto de limitações de ordem estrutural e orçamentária. É quase como uma roleta-russa, em que o Estado escolhe quem tem o direito ou não de viver. Na prática, um atendimento médico de qualidade para grande parte da população não passa de utopia.

O sofrimento de Weverton nos traz lições. A sociedade precisa exigir valer os seus direitos. Cumprir o que está escrito na Constituição como se fosse regra, não exceção. Também cobrar uma cultura de paz e de amor. Exigir do Estado política de desarmamento, como forma de evitar tragédias como a que se abateu sobre ele e a família. Precisamos de mais tolerância no trânsito e no dia a dia. Respeitar o próximo. Contar até 10 antes de qualquer reação impulsiva e desmedida. Precisamos, sobretudo, entender que a vida é tesouro de valor imensurável. Precisamos ser mais humanos. Por você, por mim, por Weverton.



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