postado em 20/09/2019 09:40
A imprensa livre é, indubitavelmente, um dos pilares de sustentação do Estado democrático de direito. E o exercício responsável do jornalismo profissional é condição primeira para que os meios de comunicação possam desempenhar seu papel em prol da sociedade. Excessos têm de ser evitados a todo custo e limites respeitados na busca diária da informação correta e verdadeira. Mais: a vida privada dos cidadãos, enquanto não sejam figuras públicas e notórias, deve e tem de ser respeitada, sob quaisquer circunstâncias.Não cabe à imprensa se dedicar a assuntos que não são de interesse público e, muito menos, da vida particular de uma pessoa que não ocupa cargos públicos ou tem qualquer ingerência administrativa no governo, seja ele federal, estadual, seja municipal. No entanto, revista de circulação nacional, desprezando os mais elementares preceitos do bom jornalismo, imiscuiu-se na vida profissional de uma psicóloga e coach que, não por coincidência, é nora do presidente da República, Jair Bolsonaro, e casada com o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Sem saber que estava conversando com um repórter ; ele não se identificou como tal para a interlocutora ao contratar seu curso de coaching ;, a nora do presidente discorreu sobre vários assuntos como profissional de coaching, por meio de um canal on-line. Estava trabalhando como qualquer cidadão brasileiro em sua área de atuação. Mas, na verdade, dava subsídios para uma matéria jornalística sem qualquer interesse público. De dentro de sua casa, trocou impressões com o jornalista que em nada acrescentaram para a informação ou qualquer esclarecimento à opinião pública sobre qualquer fato relevante.
Diante da reação de vários setores da sociedade, o grupo responsável pela publicação de circulação nacional admitiu o erro em veicular o material jornalístico e pediu desculpas pelo ocorrido. Reconheceu que a privacidade das pessoas tem de ser respeitada, ;especialmente em seu lar e em seu lugar de trabalho;, desde que não estejam infringindo a lei ou sejam cidadãos públicos, como servidores em cargos de direção, políticos, autoridades e celebridades, entre outros.
O episódio envolvendo a nora do presidente da República e esposa de um parlamentar eleito pelo voto popular serve como reflexão do verdadeiro papel da imprensa em uma democracia. Na realidade, reportagens desse teor em nada contribuem para o desenvolvimento do país, que precisa, urgentemente, voltar ao rumo do crescimento sustentável. Dentro dessa perspectiva, cabe aos meios de comunicação promover discussões e debates que levem o Brasil para o caminho da prosperidade.
É dever da imprensa, em suas atribuições, ser guardiã da sociedade civil, denunciando irregularidades, abuso de autoridades, gestões danosas aos cofres públicos, entre outras missões. E não perder o foco de sua razão de existir, respaldada pela Constituição Federal.