postado em 21/09/2019 04:14
Em meados do mês passado, fiz um texto sobre a importância de conversar com as crianças ; conforme a idade de cada uma, claro ; a respeito de violência física, psicológica e sexual. O diálogo é necessário tanto para descobrir se elas estão sendo vitimadas quanto para que saibam como agir se vierem a se tornar alvo. Também mencionei o bullying e dei um exemplo: em conversas em casa, descobri que uma das crianças estava passando pelo problema no colégio. Fomos lá, e a situação foi resolvida sem grandes dificuldades.Dias depois da publicação, recebi e-mail de uma leitora ressaltando que bullying é infinitamente mais complexo de solucionar do que fiz crer no meu texto. Ela vive esse drama na família, com uma criança que já passou por várias escolas particulares, e todas, sem exceção, desrespeitaram os direitos dela. Este ano foi o pior de todos, segundo me relatou, porque a criança, que não mora em Brasília, sofreu episódios recorrentes de bullying. Num deles, um grupo de colegas de classe criou uma ;vacina; contra a criança e saiu ;vacinando; outros alunos. Quando a mãe chegou para buscá-la, ela perguntou: ;Mãe, eu sou uma doença? Por que estão se vacinando contra mim?;. É realmente uma situação desesperadora, de fazer chorar. Como alguém vulnerável pode sofrer algo assim e não ser protegida pelos responsáveis pelo estabelecimento de ensino? Mas foi o que aconteceu. A despeito dos esforços dos pais, a escola não tomou nenhuma medida eficaz para combater as hostilidades, e a saída foi trocar a criança de colégio, no meio do ano letivo.
A leitora falou de seu temor de que o impacto na criança seja mais profundo do que se pensa e de que episódios semelhantes aconteçam no novo colégio. Ela encerrou dizendo que os pais dos alunos que criaram a ;vacina; deveriam ficar alertas, ;pois seus filhos demonstraram já na infância um alto grau de crueldade e de falta de empatia, e a gente sabe muito bem onde isso desemboca;.
É um relato chocante, revoltante e mostra a urgência de lutarmos contra esse fenômeno social tão arraigado quanto grave, com consequências devastadoras em meninos e meninas. Leis de combate à violência existem ; federais, de n; 13.185/2015 e de n; 13.663/2018; e distrital, de n; 4.837/12 ;, mas têm de ser colocadas em prática efetivamente. É necessário o esforço conjunto do poder público, dos educadores, da sociedade. Pais e responsáveis, principalmente, têm papel imprescindível, não só para detectar se as crianças são vítimas como também para descobrir se estão sendo opressoras. Nenhum de nós pode se omitir nessa batalha.